Em 2021, após dar à luz ao filho mais novo, uma esteticista decidiu resgatar a autoestima e melhorar a relação com o corpo. Para isso, buscou uma cirurgiã que fizesse a tão sonhada lipoaspiração. Responsável pelo procedimento que levou à morte a advogada de MC Poze (Silvia de Oliveira Martins, no último domingo), Geysa Leal Corrêa já era nome conhecido da profissional, que atendia pacientes da médica em sua clínica de estética. O resultado da lipo, no entanto, foi um quadro de necrose que causou deformação nas costas e na barriga da mulher, de 43 anos, que preferiu não ser identificada.
O orçamento foi atraente e a cirurgia foi marcada, com valor estimado pela paciente em R$ 15 mil. Aconteceu em setembro daquele ano, em uma clínica na Zona Sul do Rio. A vítima confessa que não chegou a verificar o histórico da cirurgiã, e decidiu confiar. As situações controversas começaram a se apresentar já no pré-operatório, durante a aplicação da anestesia, que foi administrada por uma profissional que não se identificou como médica.
“No dia da cirurgia, foi uma assistente que me riscou e identificou onde tinha gordura a mais. Acredito que não tivesse anestesista. Só tinha ela [Geysa] de médica, e quem me deu a injeção não se identificou. Depois, por acaso, vi que essa pessoa também estava fazendo atendimento de estética no consultório de Icaraí”, conta.
A paciente comenta que, após a cirurgia, recebeu uma única visita de Geysa, que garantiu o sucesso dos procedimentos, na barriga e nas costas. Depois disso, a reencontrou no consultório onde fez as primeiras consultas, em Icaraí, quando foi passar pelas primeiras sessões de drenagem linfática, orientadas pela médica.
“A esteticista tinha visto algo nas minhas costas e me aplicou algo. Ela fez umas três aplicações do lado esquerdo e duas do lado direito. Disse que era só para oxigenar a pele”, diz.
Até este momento, a vítima não tinha visto o resultado da cirurgia, devido à aplicação de um taping — espécie de fita usada para estimular a fixação do procedimento. Depois de alguns dias, quando removeu a fita, reparou que havia uma mancha enorme e vermelha. Foi, então, que decidiu entrar em contato com a médica e relatar o que estava acontecendo.
“Tirei uma foto e mandei para a Dra. Geysa. Não estava ardendo, não estava coçando, não estava nada”, relata.
Começou, a partir deste dia, uma sequência de tratamentos mal-sucedidos e oferecidos gratuitamente por Geysa. Os tratamentos duraram até o início de dezembro, quando a paciente decidiu procurar outro profissional e soube que o processo pelo qual sua pele passava era chamado de necrose.
“Minha barriga ficou torta, não lipou direito. Fiquei arrasada com o que aconteceu comigo. Quando ela viu que não estava dando jeito nenhum, que minha barriga tava torta, ela falou que não iria me cobrar nada e ela faria no consultório a lipo da parte de cima da barriga”, diz.
Após a série de tentativas frustradas na busca por uma resolução, Geysa propôs, então, que ela fizesse um novo procedimento, gratuitamente, para terminar o processo de lipoaspiração na barriga. A vítima não aceitou, e disse que não confiava mais na médica. Preferiu, então, fazer o orçamento em outro consultório. Geysa arcaria com os custos, e aceitou a contraproposta.
“Vi uma cirurgiã na Tijuca, me passou o orçamento. Ficou em R$ 37 mil para consertar o que ela fez em mim. Nesse momento, ela não me respondia mais, eu não falava mais com ela. Ela falou que podia arcar R$ 20 mil, e disse: “o restante é para você arcar. Se você não aceitar, é só procurar seus direitos na Justiça”, relata a paciente, que iniciou, então, um processo judicial: “O estado que fiquei foi deprimente, lastimável. Não deixava nem o meu marido me ver”.
Histórico de erros
O histórico de Geysa é marcado por acusações e tragédias. Em 2021, o Ministério Público já a havia denunciado pela morte da pedagoga Adriana Ferreira Capitão Pinto, uma semana após procedimento com a médica em julho de 2018. No mesmo mês, a estudante Gabriela Nascimento de Moraes também passou semanas internada após ter o intestino perfurado por Geysa. Nessa semana, o Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj) abriu sindicância para apurar a conduta da profissional.
Na época, já existiam três processos cíveis por erro médico contra Geysa. Em todos os casos, as partes autoras pediram indenização por dano moral. Num deles, a paciente alega que se submeteu ao procedimento de bioplastia de glúteos para aumento de suas medidas na região, mas afirma que não obteve o resultado pretendido, e que não teria ocorrido qualquer mudança estética após o procedimento.
No caso da professora morta uma semana após o procedimento, Geysa chegou a prestar depoimento na 77ª DP (Icaraí). Ela disse aos investigadores que, apesar de não ter registro para atuar na área de cirurgia plástica, está habilitada para praticar qualquer ato médico.