Um casal de turistas de São Paulo relatou à reportagem que precisou fugir pela janela do banheiro para deixar a pousada atingida pela queda do avião em Gramado, na Serra do RS, no domingo (22). Carlos Schmitz e Gabriela Laco estavam hospedados no térreo e contaram que os destroços do bico da aeronave chegaram a invadir o quarto vizinho.
"Foi desesperador. No momento, o instinto de sobrevivência fala mais alto, a gente não pensa em nada. Foi o único acesso. Se não fizer isso, a gente vai morrer e na hora você nem pensa muito", diz Carlos.
A aeronave partiu de Canela, cidade vizinha, e caiu poucos minutos depois. Na queda, atingiu, além da pousada, a chaminé de um prédio, uma casa e uma loja de móveis. Dez pessoas que estavam no avião morreram e 17 que estavam no solo ficaram feridas.
"Parecia um cenário de guerra. Entulho, fumaça, silêncio", relembra Gabriela.
O engenheiro civil afirma que não havia outra saída disponível. A estrutura da pousada foi avariada com a queda da aeronave.
"Tentei levantar para abrir a porta, a porta já estava soterrada. Os escombros já estavam praticamente na altura do batente, a janela do lado também já estava encoberta de entulho",
Segundo Carlos, a única forma de deixar as dependências foi pela janela do banheiro. Ele precisou quebrar parte da estrutura com as mãos e usou uma cadeira para atingir a altura necessária para que os dois conseguissem pular.
"Eu fui na frente, pulei a janelinha e fui ajudar ela. Nisso que eu fui ajudar ela, a cadeira ainda caiu. Consegui segurar ela pelos braços e puxei com toda força que eu tinha", recorda o turista.
Após deixar o local, o casal recebeu atendimento médico em um hospital do município e ficou em observação por cerca de 6h. Eles foram liberados, e o filho da proprietária da pousada os encaminhou para uma outra hospedagem.
Mortos e feridos
A Polícia Civil informou que as vítimas da queda do avião são o empresário Luiz Cláudio Salgueiro Galeazzi, de 61 anos, e 9 familiares dele: a mulher, três filhas, a sogra, a irmã, o cunhado e duas crianças. Em nota, a Galeazzi & Associados afirma que um dos mortos é Bruno Cardoso Munhoz Guimarães, diretor da empresa. A companhia não confirmou se Bruno é cunhado de Luiz Cláudio.
Os nomes não foram divulgados, pois o Instituto-Geral de Perícias (IGP) trabalha na identificação.
"Após a liberação da perícia, os corpos encontrados na edificação vão para análise de DNA, para ter certeza que todos estavam na aeronave e descartar qualquer outra vítima, da loja ou da pousada", explicou o comandante dos Bombeiros da Região da Serra, coronel Mauricio Ferro.
Dezessete pessoas que estavam em solo sofreram ferimentos e foram levadas para atendimento médico. Os dez mortos estavam no avião. O governo do estado informou que a maior parte dos feridos precisou de atendimento por ter inalado fumaça. Doze dos feridos foram encaminhados ao hospital de Gramado – 10 já receberam alta e duas foram levadas aos hospitais Cristo Redentor e de Pronto Socorro em Porto Alegre.
Uma das que sofreram ferimentos graves é uma mulher de 51 anos que está no Hospital Cristo Redentor. Ela ingressou no local por volta das 17h25 após ser socorrida pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
"[Está] em estado grave, com ventilação mecânica e sedada. Reavaliada a área corporal queimada em 30%, com lesões de 2º e 3º graus. Neste momento, está na Unidade de Terapia Intensiva do HCR", divulgou a assessoria de comunicação do hospital.
A outra pessoa ferida foi encaminhada ao Hospital de Pronto Socorro. Ela é uma mulher de 56 anos, teve 43% do corpo queimado e está na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI).
Os outros cinco feridos receberam atendimento médico em um hospital de Canela e já receberam alta.
Destroços de avião que caiu em Gramado — Foto: Reprodução/RBS TV