O governo federal vai iniciar estudos para a construção de um canal de cerca de 20 quilômetros entre a Lagoa dos Patos e o Oceano Atlântico para escoar a água da lagoa.
A obra de engenharia é vista como uma das possibilidades para evitar alagamentos nas cidades em redor da lagoa, inclusive a capital Porto Alegre. As informações são do blog do jornalista Gerson Camarotti.
O ministro da Casa Civil, Rui Costa, avaliou que o canal vai evitar inundações da magnitude que se viu no mais recente desastre ambiental. E que vai ajudar, principalmente, a região metropolitana de Porto Alegre.
“Vamos iniciar os estudos”, disse Rui Costa.
Ainda não há prazos ou custos estimados. Segundo o ministro, o estudo vai buscar alternativas que não impliquem em danos adicionais ao meio ambiente – por exemplo, que não alterem a salinidade da lagoa com a entrada de mais água do oceano.
Em alguns trechos da Lagoa dos Patos, a altura é de nove metros acima do nível do mar – o que facilita o escoamento por gravidade.
Ao mesmo tempo, é preciso haver uma espécie de dique para bloquear o fluxo da água no sentido oposto, do oceano para a lagoa.
Essas comportas seriam abertas, principalmente, antecipando períodos chuvosos – como uma ação preventiva para “esvaziar” a lagoa e evitar transbordamento.
No governo federal, a percepção é de que um dos principais problemas foi o não funcionamento das comportas do sistema anticheias da capital gaúcha.
A informação que chegou ao Palácio do Planalto é de que, das 23 casas de bombas desse sistema – de responsabilidade das prefeituras –, apenas uma estava em pleno funcionamento.
A percepção no governo é de que, se o sistema estivesse funcionamento melhor, o dano registrado até aqui poderia ter sido bem menor na região metropolitana.
Na última segunda (13), o próprio presidente Lula chegou a falar sobre o tema em reunião com os 37 ministros para discutir medidas de socorro ao Estado.
“Me parece que não foi só o fenômeno da chuva. Me parece que teve um fenômeno também, sabe, que não cuidaram das comportas que deveriam ser cuidadas há muito tempo. Mas tudo isso é um problema a ser resolvido daqui para frente. Nós vamos tentar apresentar a nossa contribuição ao povo do RS. Inclusive, apresentando uma discussão nacional sobre a questão de resolver as questões das enchentes na cidade de Porto Alegre e na Região Metropolitana”, declarou Lula.
“Danos irreversíveis”
O Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul emitiu um comunicado sobre a possibilidade de abrir canais ligando a lagoa ao oceano. “Uma obra desse tipo, sem as considerações necessárias, pode causar danos irreversíveis”, concluem os técnicos.
“Esse tipo de obra exige estudos detalhados, com uma visão multidisciplinar e interdisciplinar para avaliar os impactos positivos e negativos. Sem tais estudos, há pouca garantia de que uma obra desse tipo garantiria um rebaixamento significativo do nível d’água no Guaíba e na Lagoa dos Patos, que é governado por múltiplos fatores”, diz o texto.
A nota acrescenta que “tecnicamente, a abertura de uma nova barra envolve riscos elevados: erosão das praias; salinização do Guaíba e da Lagoa do Casamento; efeitos negativos sobre o ambiente, a sociedade e a economia, afetando navegabilidade e a produção agrícola. Além disso, há que considerar que esse sistema teria elevados custos de implantação e manutenção, com operação complexa”.