Um vendedor do centro de compras popular Pop Center, também conhecido como camelódromo, de Porto Alegre, foi flagrado vendendo remédio para tratamento de hiperatividade, que tem o uso controlado, sem receita, pela equipe da RBS TV. Nesta quarta-feira (18), a reportagem revelou que duas farmácias comercializam os medicamentos que precisam de receita médica.
Uma produtora da RBS TV conseguiu fazer a compra no camelódromo. O vendedor pediu para verificar se ela gravava a conversa no celular, antes de negociar 60 comprimidos do medicamento por R$ 250.
O vendedor informa que o produto chega em cerca de 15 minutos. "Porque ele [suposto fornecedor] vai trazer direto da farmácia".
Em nota, o Pop Center diz que ele foi demitido, teve a credencial recolhida e que registrou ocorrência na Polícia.
A RBS TV flagrou duas farmácias vendem sem receita remédios de uso controlado, usados para tratamento de transtornos como depressão e ansiedade, após denúncia da mãe de uma pessoa que se tornou dependente deste tipo de medicamento depois de comprá-los irregularmente no estabelecimento.
Na farmácia de Porto Alegre, quem deseja comprar o remédio com embalagem tarja preta sem receita precisa informar uma senha, que é o nome de uma mulher e de uma empresa onde ela supostamente trabalha. Uma produtora da RBS TV conseguiu comprar, usando essa senha, uma substância usada em tratamentos de depressão e transtornos de humor.
Por vender sem receita, um funcionário da farmácia cobra até ser três vezes mais do que o valor do remédio em outras farmácias. Ele diz que depois consegue uma receita médica para legalizar a venda.
"A gente não pode [vender sem receita], mas a gente consegue a receita. Eu só não te dei o desconto que daria se tu tivesse receita", afirma o atendente no momento da venda.
Em Alvorada, o produtor da RBS TV conseguiu comprar o mesmo medicamento. Em segundos, a balconista entregou a caixa, sem pedir a receita. "A gente sempre pede, pois caso tu precise assim, é melhor tu ligar um dia antes", orientou.
As caixas de remédios compradas sem receita foram entregues ao Departamento de Narcóticos da Polícia Civil. Segundo a polícia, vender medicamentos controlados sem receita médica se equipara ao tráfico de drogas, com pena de até 15 anos de prisão. Quem compra pode ser enquadrado em porte de drogas.
"A farmácia pode ser interditada. Os órgãos de vigilância são acionados, e a farmácia vai ter as questões administrativas junto a esses órgãos. Na questão penal, que vai ser apurada pela delegacia, vai ser aberto um inquérito para investigar a prática", diz a delegada Cristiane Becker.
Em nota, o Conselho Regional de Farmácia do RS (CRF/RS) afirmou que a prática é uma "violação ética grave e inaceitável", que fere os princípios da profissão e coloca em risco a vida de pacientes. "Os farmacêuticos envolvidos nesse tipo de conduta estão sujeitos a responder a processos éticos", diz a nota, que ressalta ainda que a prática "pode ser caracterizada como um crime de tráfico de entorpecentes".
A psiquiatra especialista em vícios Patrícia Desaibro alerta que o risco para o uso sem o devido acompanhamento e controle envolve a dependência e a abstinência.
"É a resposta do corpo à falta daquela medicação e um dos efeitos mais perigosos para a pessoa ter as crises convulsivas.
As crise convulsivas podem acontecer em qualquer lugar, ela pode estar dirigindo, ela pode estar em casa, ela pode estar trabalhando. Que na abstinência, na falta da medicação ou na redução da quantidade da medicação a pessoa pode desencadear essas crises convulsivas", explica.
O Pop Center Porto Alegre repudia qualquer prática ilícita e ilegal, por isso, a equipe da segurança do Centro Popular de Compras, juntamente com a Diretoria, já tomou todas as devidas providências com relação ao caso. O funcionário da loja já foi identificado, retirado de seu posto de trabalho e teve a sua credencial recolhida, sendo assim está proibido de ingressar no prédio. Além disso, um Boletim de Ocorrência também já foi aberto. Elaine Deboni, CEO do Pop Center, afirma que a Diretoria não tinha conhecimento sobre o caso e que jamais permitiria que tal atitude fosse praticada livremente no local.