Pela primeira vez em sua história, a cidade gaúcha de Montenegro (Vale do Caí) tem um vereador cassado. Trata-se da bolsonarista Camila Oliveira (Republicanos), julgada pelos colegas nesta segunda-feira (16) com um placar de nove votos a zero. Motivo: em um vídeo gravado em seu gabinete na Câmara e divulgado nas redes sociais, ela chama de “cadelas” as mulheres com orientação política de esquerda.
A cena foi registrada há cerca de três meses, no período entre o primeiro e o segundo turnos das eleições. Acompanhada de duas menores de idade e empunhando uma bandeira do Brasil junto com um retrato de Jair Bolsonaro, Camila – que é técnica de enfermagem – aparece dublando uma música em homenagem ao então presidente da República.
Interpretada e composta originalmente por um funkeiro também bolsonarista, a letra diz o seguinte: “As mina [garota, na gíria] de direita são as top, mais bela (…). Enquanto as de esquerda têm mais pelo que cadela”.
Somando-se o teor da manifestação e o fato de ter sido feita dentro do ambiente legislativo, mais o agravante do envolvimento de duas menores de idade, o resultado foi a abertura processo por quebra de decoro parlamentar. A iniciativa partiu da bancada do PDT na Casa. Também pesou contra a parlamentar um segundo vídeo, no qual chama de “vagabundos” os políticos e simpatizantes do PT, partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Quem assume a vaga aberta pela cassação é o suplente Cristian Souza, do mesmo partido. Antes do afastamento da parlamentar municipal, Montenegro só havia testemunhado dois impeachments, ambos envolvendo prefeitos. O mais recente foi Luís Américo Aldana (PSB), em 2017, dois anos após a mesma providência ser tomada com Paulo Azeredo (PDT).
Manifestação
Camila, que completará 45 anos no dia 7 de fevereiro, não estava presente na sessão desta segunda-feira. Eleita com 647 votos no pleito de 2020 (em primeiro mandato), sua campanha teve entre seus carros-chefe a defesa de pautas conservadoras nos costumes.
Em entrevista à imprensa, ela se mostrou inconformada com a punição – que incluiu a perda dos direitos políticos por oito anos. Ela classificou a com a perda do mandato como “golpe” e “perseguição”, dentre outras alegações:
“Sou uma mulher que não usurpou recursos públicos e se doou à sociedade local, então o que acontece é que meus colegas não suportaram ver a população tão satisfeita com tamanha dedicação.” A agora ex-vereadora também se manifestou por meio de nota, dizendo ter sido discriminada por ter feito “uma paródia de música que faz parte da cultura popular, como é o funk”.