O presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou pela primeira vez sobre a eleição presidencial na Venezuela, realizada no domingo (28). Lula disse que, para “resolver a briga”, é preciso que as autoridades locais apresentem as atas de votação.
A declaração foi dada em entrevista na manhã desta terça-feira (30) no Palácio do Planalto à uma emissora de televisão. Nas eleições venezuelanas, as atas são boletins que registram os votos em cada urna. Elas não foram devidamente apresentadas pelas autoridades daquele país. O governo da Venezuela alega falha no sistema.
O resultado oficial, apresentado pelo Comitê Nacional Eleitoral (CNE), aponta o atual presidente, Nicolás Maduro, como vencedor com 51,2% dos votos. Mas a oposição e autoridades estrangeiras apontam fraude e dizem que o vencedor foi o oposicionista Edmundo Gonzalez.
O CNE é ligado ao governo venezuelano e, na prática, é controlado por Maduro. Desde esta segunda (29), a oposição faz manifestações de rua na capital, Caracas.
Lula, que, no início do mandato, era próximo a Maduro, mas depois foi se afastando, não falou nada sobre a Venezuela nem no domingo nem na segunda. A manifestação veio nesta terça, dois dias depois do início do impasse.
“É normal que tenha uma briga. Como resolve essa briga? Apresenta a ata. Se a ata tiver dúvida entre a oposição e a situação, a oposição entra com um recurso e vai esperar na Justiça o processo. E vai ter uma decisão, que a gente tem que acatar. Eu estou convencido que é um processo normal, tranquilo”, afirmou o presidente.
Lula condicionou o reconhecimento do resultado à apresentação das atas.
“Na hora que tiver apresentado as atas, e for consagrado que a ata é verdadeira, todos nós temos a obrigação de reconhecer o resultado eleitoral da Venezuela’, disse.
Outros países da América do Sul e importantes parceiros do Brasil — como Argentina, Chile e Uruguai — contestaram o resultado da Venezuela. Lula começou seu mandato buscando reintegrar Maduro ao continente. O presidente venezuelano está no poder desde 2013 e vem renovando os mandatos com eleições consideradas suspeitas por observadores internacionais.
O governo brasileiro apostava em usar a interlocução de Lula com Maduro para influenciar a realização de eleições limpas. Mas Maduro radicalizou o discurso, impediu oponentes de participarem, e o governo brasileiro se afastou dele. A estratégia da diplomacia brasileira, e de Lula, vem sendo aguardar a apresentação das atas.
“O que precisa é que as pessoas que não concordam tenham o direito de se expressar, de provar que não concordam e o governo tem o direito de provar que está certo”, continuou o presidente.
Na noite dessa segunda, o PT “furou” o silêncio de Lula e a cautela do governo e reconheceu a reeleição de Maduro. A nota é assinada pela executiva nacional do partido.
Lula comentou a nota do PT. Ele disse que não há nada “grave” nem “assustador” no processo eleitoral venezuelano.
“O PT reconheceu, a nota do partido dos trabalhadores reconhece, elogia o povo venezuelano pelas eleições pacíficas que houveram. E ao mesmo tempo ele reconhece que o colégio eleitoral, o tribunal eleitoral já reconheceu o Maduro como vitorioso, mas a oposição ainda não. Então, tem um processo. Não tem nada de grave, não tem nada de assustador. Eu vejo a imprensa brasileira tratando como se fosse a Terceira Guerra Mundial. Não tem nada a de anormal. Teve uma eleição, teve uma pessoa que disse que teve 51%, teve uma pessoa que disse que teve 40 e pouco por cento. Um concorda, o outro não. Entra na Justiça e Justiça faz”, disse.