As provas sobre a atuação dos generais Augusto Heleno e Braga Netto na trama golpista descoberta pela Polícia Federal tiraram o brilho que restava sobre a dupla em alguns setores do Exército. A Operação Tempus Veritatis da Polícia Federal expôs pela primeira vez de que forma oficiais-generais das Forças Armadas, exercendo cargos na cúpula militar e no primeiro escalão do governo federal, envolveram-se na trama golpista do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Na frente, Braga Netto e Heleno se diziam amigos do então comandante do Exército, o também general Freire Gomes. Pelas costas, tramavam contra o “cagão”, por não aderir ao golpe para manter Jair Bolsonaro no poder.
A operação da PF levou a reações distintas no oficialato, seja entre integrantes da ativa e da reserva. Um importante militar da caserna confidenciou que se tratava de “Baixaria total. Aqui, todo mundo de cabeça baixa”. Um outro interlocutor do comando declarou no dia da operação que eles “deveriam estar presos”.
A ofensiva policial autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes expôs as entranhas da caserna, revelou quem agiu contra quem no planejamento do golpe para “virar a mesa” da derrota eleitoral e colocou novos generais, coronéis e majores sob suspeita.
Imagem arranhada
Um dos generais de Exército que foi alvo da campanha para rachar o Alto Comando, cuja autoria e métodos começaram a ser desvendados pela Polícia Federal, confidenciou que a operação atinge a imagem da Força Terrestre de forma “muito ruim” e traz mais desgastes ao atual comandante, Tomás Paiva. De perfil legalista, este quatro estrelas afirma que, assim como a sociedade, havia divisões internas no Alto Comando na época, agora trazidas à público pelo relato da PF.
O general diz que a operação desvendou ações isoladas “de pessoas isoladas” e que refletem a divisão da sociedade, mas não representam a posição do Exército. Para ele, os defensores de golpe eram minoria e, apesar da conspiração de alguns, a tropa não se mexeu.
Um dos nomes que apareceu pela primeira vez e, conforme a apuração policial, se dispôs a mover tropas na cartilha de Bolsonaro, é o do general Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira, então comandante de Operações Terrestres. Ele era de longa data considerado o mais bolsonarista do Alto Comando, segundo integrantes da Força Terrestre.
Decepção
Um outro coronel da reserva disse que, entre os mais realistas no Exército, a ofensiva da PF era considerada uma “questão de tempo”. Calculavam que algo mais contundente viria desde a notícia de que o coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, decidira delatar o que sabia em troca de alívio na sua pena. As revelações de Cid, entre elas provas como cópias de mensagens e gravações, embasaram as ações que atingiram a cúpula bolsonarista.
Mesmo assim, houve quem ainda se surpreendesse e se decepcionasse com o general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Insititucional. Conforme os investigadores descobriram, ele planejava infiltrar agentes de inteligência em campanhas adversárias, teria atuado no monitoramento clandestino para prender Moraes e pregava uma “virada de mesa antes das eleições”.
Um coronel do Exército disse que o caso “anula” a reputação do general da reserva, que era sempre lembrado na caserna com adjetivos como “brilhante, sumidade, excepcional”.
Alívio
Já na Força Aérea, o que se ouve é uma espécie de alívio, pois não teve nenhum membro alvo da operação desta vez.
O brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior era considerado o “mais bolsonarista de todos” os comandantes-gerais, especialmente pelo tipo de interação e perfil que ostentava nas redes sociais, mas até agora “saiu sem nada, ileso”, como notou um brigadeiro da ativa.
Segundo consta no inquérito, o brigadeiro teria rechaçado o intento golpista de seu então comandante supremo, Jair Bolsonaro. Mas a PF reputa relevante para manter os acampamentos antidemocráticos uma nota que ele assinou com os demais comandantes de Força.