Entre membros do Partido Liberal (PL), é consenso a mudança drástica de comportamento de Michelle Bolsonaro quando o assunto são gravações para o partido. Na pré-campanha eleitoral de Bolsonaro do ano passado, a então primeira-dama chegou a desmarcar a gravação de inserções do PL para a televisão. A justificativa de Michelle dada à época, segundo correligionários do partido, eram as suas crises de labirintite.
Hoje, a situação mudou. Nos arredores do PL, a piada é que a ex-primeira-dama não pode ver um celular que “se joga na frente”. Os integrantes da legenda afirmam que ela passou a pedir para fazer registros, que não se queixa mais de mal-estar e que os cancelamentos de gravações cessaram.
A postura da ex-primeira-dama na pré-campanha de 2022 colocou água nos planos do partido, no início da última corrida eleitoral. A meta era que Michelle protagonizasse mais de dez das 40 inserções da legenda na TV, em junho do ano passado, o que não ocorreu.
Pouco tempo depois, porém, a ex-primeira-dama entrou na campanha do marido e gravou tanto, que teve até peças vetadas pela Justiça Eleitoral, por extrapolar o tempo permitido na propaganda. Michelle é vista no PL como um dos principais ativos políticos da sigla e sua candidatura a um cargo no Legislativo em 2026 é dada como certa.
Difícil trato
A cúpula do PL trata o potencial político da ex-primeira-dama com tanta preocupação que atende a todos os seus pedidos. Inclusive, demissões. Desde que assumiu a presidência do PL Mulher, em março, Michelle já solicitou o desligamento de ao menos três funcionários que trabalhavam na direção da legenda: duas mulheres e um homem.
Publicamente, os dirigentes do PL elogiam a ex-primeira-dama, mas Michelle é considerada de difícil trato no cotidiano interno do partido. Segundo relatos, a presidente do PL Mulher gosta de atenção exclusiva em detrimento de outras áreas da legenda. Michelle também prefere manter um grupo muito restrito para atendimento de suas demandas para evitar vazamentos de informação.
Michelle, porém, pode ser imprevisível e oscila com frequência a maneira como trata as pessoas que a rodeiam desde o período em que já colecionava conflitos no Palácio da Alvorada. Alguns com funcionários e outros com os enteados. No segundo turno da eleição, ela chegou a expulsar o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) do palácio.
Agora, na presidência do PL Mulher, ela cobra mais espaço e estrutura a cada dia dentro do partido. O partido aluga salas para uso de Michelle e Jair no mesmo local onde funciona a sede do PL em Brasília.
Na cabeça do casal Bolsonaro, o partido só ganhou o espaço que possui no Congresso Nacional por causa da votação do ex-presidente e, por isso, a legenda precisa atendê-los em todas as solicitações.