O União Brasil foi o partido aliado ao Palácio do Planalto que mais votou contra os interesses do governo no primeiro semestre. Mesmo PP e Republicanos, que estavam na coligação de Jair Bolsonaro (PL) em 2022 e só agora negociam indicações de ministros, foram proporcionalmente mais governistas que o União Brasil.
A análise inclui as votações de 2023 até o início do recesso informal do Congresso, há 11 dias. O Legislativo voltará a funcionar na primeira semana de agosto. Os integrantes do União Brasil na Câmara foram contra o Planalto em 38,12% das votações. Deputados do Republicanos deram 29,82% de seus votos contra a orientação do Executivo no período. No PP, o porcentual foi de 35,14%.
A média de votos contra o governo na Casa Baixa no primeiro semestre foi de 31,88%. Entre partidos que indicaram ministros, a média foi de 17,17% dos votos contrariando o Planalto, enquanto essa parcela é de 47,78% no caso das legendas sem integrantes no primeiro escalão do Executivo.
Negociação
A comparação entre União Brasil, PP e Republicanos tem um motivo: as negociações em andamento para que os dois últimos partidos ingressem no governo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva precisou negociar a entrada do União Brasil no governo com o senador Davi Alcolumbre (AP).
Juscelino Filho virou ministro das Comunicações e Waldez Góes, aliado de Alcolumbre apesar de ser do PDT, assumiu o Ministério da Integração. Lula ainda nomeou Daniela Carneiro no Turismo – depois, seu grupo político deixou o União Brasil. A relação do partido com o Planalto foi turbulenta ao longo de todo o primeiro semestre. Agora, com a troca de Daniela por Celso Sabino, a expectativa dos petistas é de que a interlocução melhore.
Logo após assumir o Turismo, Sabino disse que seu partido é o que mais deu votos a favor do governo depois do PT. Em números absolutos, a afirmação procede: como a bancada é grande (tem 58 deputados), mesmo com porcentual mais baixo, o total de votos dados aos projetos do Planalto supera o de outros aliados de Lula. Proporcionalmente, no entanto, a situação é diferente.
Alto custo
Segundo o professor e pesquisador do Departamento de Gestão Pública da Fundação Getulio Vargas (FGV) Marco Antonio Teixeira, o apoio atual pode ser o máximo que o União Brasil é capaz de dar ao Executivo. “O partido faz parte do governo, mas tem uma parcela de parlamentares que tem origem no bolsonarismo”, disse ele.
De acordo com Teixeira, os votos dados por PP e Republicanos ao Executivo tiveram alto custo em liberação de emendas. A nomeação de ministros dessas legendas poderia reduzir esse custo. “O que o governo quer agora é garantir uma relação mais estável”, afirmou.
Ainda não estão definidos que ministérios Republicanos e PP ocuparão, mas já é consenso que seus representantes serão os deputados André Fufuca (PP-MA) e Silvio Costa Filho (Republicanos-PE).
Fidelidade
PSD e MDB, que, assim como o União Brasil, têm três ministérios sem ter feito parte da coligação de Lula na eleição de 2022, deram um porcentual menor de votos contrários aos interesses do Executivo. A parcela foi de 19,04% no caso do PSD e de 22,09% no do MDB. Mesmo com representantes à frente de ministérios, o União Brasil não se declara da base aliada na Câmara. Deputados da sigla ensaiaram divulgar um manifesto no início do ano para declarar independência.
O único partido que foi 100% fiel ao governo federal nessa legislatura foi o PROS, mas há peculiaridades. A sigla elegeu apenas três deputados em 2022 e, neste ano, foi absorvida pelo Solidariedade. Constam só oito votos nominais do PROS no sistema da Câmara.
Depois vem o PT, partido do presidente, com 98,79% de fidelidade ao Planalto nas votações nominais do primeiro semestre. Os outros dois partidos da federação petista – PCdoB (96,83%) e PV (96,33%) – também estão nas primeiras posições do ranking de fidelidade. PSB (92,43%) e PDT (90,94%) são as outras duas legendas que deram mais de 90% de seus votos nominais em consonância com o Planalto no período.
Os principais opositores são o Novo (23,11% de votos pró-governo) e o PL (26,74% de votos pró-governo) de Bolsonaro. Os dados mostram um isolamento das duas legendas.