O ex-ministro da Justiça Anderson Torres chegou por volta das 13h30 desta segunda-feira à sede da Polícia Federal, onde vai prestar depoimento sobre a atuação da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no dia do segundo turno da eleição presidencial do ano passado.
Na saída do batalhão da Polícia Militar onde Torres está preso, policiais colocaram películas escuras nos vidros do carro, para que o ex-ministro não fosse visto.
Ele será interrogado sobre as ordens que deu à Polícia Rodoviária Federal (PRF) para promover uma série de bloqueios nas rodovias no dia do segundo turno das eleições de 2022. A maior parte das blitzes foi registrada na Região Nordeste, o que o atual diretor geral da PRF, Antônio Fernando Oliveira, classificou como "desproporcional". A PF suspeita que Torres idealizou a operação com o intuito de atrapalhar o trânsito de eleitores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
À PF, Torres dirá que as ações ocorreram em todo o país e que não houve qualquer direcionamento eleitoral. De acordo com o advogado Eumar Novacki, Torres "vai abrir mão do direito ao silêncio e esclarecerá tudo o que for questionado".
Os investigadores já têm em mãos a planilha que ele pediu a seus subordinados para basear a ação — o arquivo levanta os locais em que Lula e o então presidente Jair Bolsonaro (PL) tiveram o melhor desempenho eleitoral. A defesa irá pontuar que o mapeamento foi feito sobre ambos os candidatos.
A PF também deve indagar o ex-ministro da Justiça sobre as razões de ele ter viajado à Bahia nas vésperas do segundo turno. Os investigadores suspeitam que a visita serviu para orientar a PF e a PRF sobre os bloqueios que seriam realizados no Estado, que foi crucial para a vitória eleitoral de Lula.
Torres deve explicar que a viagem ocorreu para atender um convite do então diretor-geral da PF, Márcio Nunes. Ele deve mostrar uma foto publicada no site da PF que o mostra ao lado de Nunes numa "visita à obra de reestruturação do edifício".
Em abril, a PRF reinstaurou uma investigação interna para apurar o que motivou a operação dos bloqueios nas estradas. No despacho, o então corregedor-geral substituto da corporação Vinicius Behrmann Bento alegou que havia "fatos novos" que ensejavam o desarquivamento do procedimento.
Esta será a terceira vez que Torres prestará esclarecimentos à PF neste ano. A primeira ocorreu em 18 de janeiro, quando ele decidiu ficar em silêncio sob o argumento de que não havia tido acesso aos autos.
Em 2 de fevereiro, ele foi interrogado por mais de 8 horas no 4 Batalhão da Polícia Militar do Distrito Federal, onde ele está preso desde janeiro. Na ocasião, Torres afirmou que considerava a minuta golpista encontrada em sua casa como um documento "muito ruim", apócrifo, que "já era para ter sido descartado". O papel timbrado, que falava em instaurar "estado de defesa" no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), foi apreendido em sua residência durante o cumprimento de um mandado de busca e apreensão.
Neste sábado e domingo, senadores visitaram Torres na prisão com o intuito de verificar o seu estado de saúde e lhe dar uma "força moral".
-- Ele está muito triste, abatido, chora o tempo todo. Imagina não poder ver os filhos há tanto tempo? — disse o senador Izalci Lucas (PSDB-DF). Ainda segundo o senador, Torres afirmou que está com a consciência tranquila e disposto a falar.
O ministro Alexandre de Moraes atendeu um pedido feito por 42 senadores que queriam visitar Torres no batalhão da PM. Moraes, no entanto, excluiu da lista os senadores Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e Marcos do Val (Podemos-ES) por entender que há uma "conexão" dos dois em investigações envolvendo o ex-ministro.
Torres está preso desde 14 de janeiro, por suspeita de omissão e falhas no planejamento de segurança do Distrito Federal que culminou com os atos golpistas de 8 de janeiro. Na época dos atentados contra a sede dos Três Poderes, ele era secretário de Segurança Pública do Distrito Federal e estava em viagem com a família nos Estados Unidos.