O mês de abril promete ser duro para Ana Carolina Oliveira, mãe de Isabella Nardoni, morta em 2008 aos 5 anos.
No dia 5, ela completa 40 anos. A partir do dia seguinte, seu ex-companheiro Alexandre Nardoni, condenado a 30 anos de prisão pela morte da própria filha, estará apto a solicitar o cumprimento do restante da pena em liberdade.
No dia 18, se estivesse viva, Isabella completaria 22 anos. “Nem sei como vou passar por isso tudo”, reconhece Ana Carolina em entrevista.
Em paralelo, Ana Carolina se prepara para uma virada na vida profissional. Pediu demissão do banco privado onde trabalhou por 16 anos e tem planos de investir na área social. Quer ajudar a dar fim à Lei de Execução Penal, extinguindo as saidinhas dos presos do regime semiaberto — benefício que alcançou Alexandre Nardoni na semana passada e também já favoreceu a madrasta de Isabella, Anna Carolina Jatobá. Condenada a 26 anos de prisão pela morte da enteada, ela saiu da penitenciária depois de cumprir 16. “Me sinto ofendida”, define a mãe da menina.
Com mais de 600 mil seguidores nas redes sociais, Ana Carolina Oliveira tem sido vista com frequência em programas de televisão e podcasts, nos quais faz questão de repetir a reprimenda às saidinhas.
“Isso tem de acabar”, reforça. Apesar de os ventos parecerem levá-la para a política, inclusive com a cobiça de partidos por seu nome, ela nega ter no horizonte uma postulação já em 2024. “Ser candidata não é uma prioridade. Vou descobrir qual o meu novo propósito de vida e comunico depois”, promete.
Leia os principais trechos da entrevista:
1) Como e onde você conheceu o Alexandre Nardoni?
Não me lembro direito. Acho que foi numa festa de amigos. Eu era uma adolescente 15 anos, e ele tinha 21. Nosso namoro durou três anos.
2) O que você viu nele?
Não sei explicar. Eu e ele tínhamos amigos em comum, começamos a conviver e rolou uma afinidade. Mas bonito mesmo ele nunca foi. Acho que eu estava desconectada.
3) Vocês chegaram a se casar?
Não, nunca. Quando fiquei grávida da Isabella, a gente estava namorando fazia dois anos. Eu tinha 17. O pai dele (Antônio Nardoni) chegou a procurar um apartamento para morarmos juntos, mas acabou não dando certo. Onze meses após o nascimento da minha filha, nós terminamos o namoro.
4) Como era o relacionamento de vocês?
O Alexandre era muito imaturo. Saía à noite. Dava perdidos. Me traiu várias vezes com outras mulheres. No dia em que fui à maternidade dar à luz, ele me largou sozinha lá e saiu para a balada.
5) O Alexandre chegou a namorar você e a Anna Carolina ao mesmo tempo?
Não saberia dizer. Mas acho que não.
6) Durante os três anos em que ficaram juntos, chegou a perceber algum traço de violência nele?
Não. Nenhum. Nós tínhamos um relacionamento normal como o de qualquer outro casal. De vez em quando, nós brigávamos. Mas ele nunca levantou a voz e jamais me agrediu.
7) Ele era um bom pai?
Nossa, muito! O Alexandre gostava demais da Isabella. Cuidava, dava carinho e atenção. A mãe dele (Maria Aparecida Alves Nardoni) também adorava a neta. Isso é o que me deixa mais assustada. Como a minha filha foi assassinada pelas mãos de um pai que tanto a amava?
8) Por que o namoro terminou?
Apesar de eu ter posto um ponto final, não consigo me lembrar do motivo exato do término. Sei que não estávamos bem como um casal. Acabamos seguindo caminhos diferentes na vida, e o fim aconteceu naturalmente.
9) Com o fim do namoro, Isabella ficava com o pai uma vez a cada 15 dias, certo?
Sim. A essa altura, o Alexandre já tinha dois filhos pequenos com a outra mulher (Anna Carolina Jatobá). A minha filha gostava do pai e dos irmãos pequenos. Ela tinha até um quarto só para ela na casa do pai.
10) Uma vez ela voltou com hematomas…
Sim, mas era uma marca pequena. Um dos irmãos dela tinha lhe dado uma mordida. Isso acontece até com os meus filhos aqui. Quem tem filhos pequenos sabe do que estou falando. Uma mãe sabe quando o hematoma do filho foi feito por um adulto ou por uma criança. Nesse caso, não era nada grave.
11) Como você encara a progressão da pena dos assassinos da sua filha?
Sinto vergonha das leis brasileiras. Na minha opinião, se o assassino for condenado a 30 anos, ele tem que cumprir 30 anos.
Não aceito saidinhas durante o cumprimento da sentença, muito menos as remissões feitas com leitura e trabalho. Não quer cumprir pena? Basta não cometer crimes.