A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre, determinou o afastamento de um aluno das aulas de uma professora, após um suposto caso de racismo contra ela. Gláucia Aparecida Vaz, docente do curso de Biblioteconomia, conta que o universitário disse que ela "não sabia qual era o lugar dela", que continuaria sendo perseguida e odiada.
O caso teria acontecido em 19 julho deste ano, quando a professora chegava ao prédio da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS (Fabico), no bairro Santana, para dar aula.
Em nota, a UFRGS disse que recebeu o parecer do caso em agosto deste ano e fez o encaminhamento para a sua corregedoria. Na segunda-feira (16), houve a definição pela abertura do processo. A universidade disse que uma comissão vai ser criada nesta terça-feira (17) para investigar o caso e definir uma possível sanção ao aluno, além do afastamento das disciplinas ministradas pela professora.
Gláucia relata que, assim que passou a catraca da recepção, percebeu que o aluno a aguardava segurando o elevador. Em seguida, ele disse que queria discutir uma questão do trabalho com ela, pois não havia tirado a nota máxima, 15, mas sim 14.
"A nota era praticamente a nota máxima, mas ele disse que não era a nota [o motivo da discussão], e sim o enunciado da questão. Ele não concordava com a forma que eu tinha proposto a atividade, mas não deu nenhuma explicação [a respeito do que não concordava]. Falava tudo isso gritando e alterado", lembra a professora Gláucia.
Ao ver que o diálogo não estava levando a nada, Gláucia disse que precisava trabalhar e optou por ir de escada até a sala de aula. O aluno pegou o elevador. No entanto, no lance de escadas que ia do terceiro para o quarto andar, o estudante apareceu e impediu que ela subisse.
"Minha intenção era subir direto, mas ele falou que eu não sabia escutar ninguém, que eu não sabia qual era o meu lugar. E que, ainda que fosse uma mulher – ele usou isso: falou 'uma mulher loirinha dos olhos azuis' –, eu continuaria sendo perseguida e odiada pelas pessoas", conta Gláucia, emocionada.
A professora ainda citou que era recorrente que o aluno questionasse a sua autoridade dentro da sala de aula.
Professora Gláucia recebeu apoio do sindicato e de instituições de direitos humanos — Foto: RBS TV/Reprodução
Tudo isso fez com que a docente buscasse assessoramento jurídico, o que motivou o pedido de abertura de um processo administrativo disciplinar à UFRGS, para que a instituição apurasse a situação.
"Eu me senti totalmente desamparada. O que me choca mais nessa história é a falta de humanidade. E acho que isso escancara o racismo institucionalizado", afirma a professora Gláucia.
Nesta terça-feira, alunos e entidades civis protestaram em favor da professora e exigindo celeridade no processo aberto pela UFRGS para investigar o caso.
Alunos protestaram em favor da professora Gláucia exigindo mais celeridade ao processo que apura suposto caso da racismo na UFRGS — Foto: RBS TV/Reprodução
Nota da UFRGS
"NOTA DE ESCLARECIMENTO
16 de outubro de 2023
A Direção da FABICO – Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação vem a público se manifestar em relação a suposta 'inércia' nas providências relacionadas à conduta de racismo ocorrida na Unidade, que vem sendo disseminada nas redes sociais, repudiando veementemente qualquer ato de cunho racista, bem como qualquer tipo de preconceito.
Com relação ao ocorrido, a Direção tomou conhecimento dos fatos no dia 23 de agosto de 2023, após encaminhamento do processo pelo Departamento de Ciências da Informação – DCI.
Nesta mesma data, a Direção encaminhou o processo à Corregedoria, instância responsável pela análise de todos os processos desta natureza dentro da UFRGS. Havendo juízo de admissibilidade, a Corregedoria encaminha à unidade para abertura ou não de um Processo Disciplinar.