O julgamento de Alexandra Salete Dougokenski, acusada de matar o filho Rafael Mateus Winques, 11 anos, em maio de 2020, começou nesta segunda-feira. Após o sorteio, foi definido o Conselho de Sentença, formado por quatro mulheres e três homens. O júri é presidido pela juíza de Direito Marilene Parizotto Campagna. A sessão foi encerrada às 20h e retorna às 8h30min desta terça-feira.
A primeira testemunha a ser ouvida no salão do Júri da Comarca de Planalto, no Norte do Estado, foi a professora Ana Maristela Stamm. Ela pediu que o seu depoimento não fosse transmitido pelo canal do Youtube do Tribunal de Justiça do RS (TJRS). Ana Maristela lecionava ciências e artes a Rafael Winques.
Em seu depoimento, que durou 32 minutos, disse que o menino era muito inteligente, disciplinado e querido, mas muito quieto. A professora lembra que durante as buscas por Rafael foi algumas vezes à casa de Alexandra. Ana Maristela afirmou que a mãe do menino não parecia aflita com o desaparecimento do filho. “Se mostrava tranquila”, relatou.
Delegado Carletti destaca riqueza de diligências do inquérito
Em seguida, o delegado Ercílio Raulileu Carletti, que coordenou as investigações do caso em Planalto, detalhou as diligências realizadas pela Polícia Civil e afirmou que dezenas de pessoas foram ouvidas durante a apuração do crime. “Não recordo de um inquérito com tanta riqueza de diligências e perícias”, afirmou o delegado. Em seu depoimento, Carletti destacou que a primeira versão apresentada por Alexandra sobre o crime dava conta de que o menino teria morrido após ingestão de dois comprimidos de Diazepan.
Conforme Carletti, ela relatou que após ter ministrado o medicamento, Rafael teria ficado com a boca roxa. Em seguida, ela teria amarrado o pescoço e as pernas do garoto e o arrastado até o local onde o corpo foi encontrado. Carletti ressaltou que no interrogatório no Palácio da Polícia, em Porto Alegre, em 27 junho de 2020, Alessandra confessou o crime e deu outra versão. “Ela afirmou que deu o medicamento e o menino teria ficado sonolento. Então, pegou uma corda na área de serviço e o estrangulou, pois ela usou a corda para sustentar o corpo, mas não conseguiu, o corpo caiu. Rafael, de acordo com a perícia, apresentava uma lesão característica na costela, condizente com essa versão, que é verossímil.” calendário. Segundo Carletti, as investigações começaram a tomar outro rumo a partir da identificação da marcação de uma data específica em um calendário encontrado na casa da ré. O dia 14 de maio, véspera do crime, estava assinalado com destaque. O que chamou atenção. “Isso afunilou a investigação para o núcleo familiar”, ressaltou. Após apreender o celular de Alexandra, a Polícia Civil encontrou pesquisas realizadas por ela.
Entre os sites procurados apareciam vídeos com pessoas sendo asfixiadas, entre outros assuntos. Segundo Carletti, Alexandra afirmou que praticou o crime por conta da desobediência do menino. “Ela disse que ele não fazia as tarefas de casa. Citou também que ficava muito tempo ao celular”, ressaltou. “Ela era um mãe dedicada e rígida”, completou. Após a confissão de Alexandra, o delegado afirmou que sua preocupação era retirá-la da cidade para evitar um linchamento, uma vez que a população suspeitava que ela pudesse ser a autora do crime. Após três horas e meia de depoimentos, o júri foi interrompido às 12h35min para almoço.
Delegado Moreira Neto dá detalhes do interrogatório no Palácio da Polícia
A sessão foi retomada às 13h50min, ainda com o depoimento de Carletti, que foi concluído pouco depois. Em seguida, foi ouvido o delegado Eibert Moreira Neto, do Departamento de Homicídios do RS, que foi a Planalto para ajudar nas investigações. Boa parte do depoimento do delegado foi centrado no interrogatório realizado no Palácio da Polícia e o que ocorreu durante a reconstituição do crime.
Quando Moreira Neto disse que a defesa havia tumultuado o interrogatório, o advogado de defesa Jean Severo criticou as declarações do delegado de forma veemente. Alexandra é acusada de homicídio qualificado, ocultação de cadáver, falsidade ideológica e fraude processual.
Rafael foi morto em 15 de maio de 2020. O seu corpo foi encontrado dentro de uma caixa de papelão na varanda da casa de um vizinho da família após dez dias. Conforme denúncia do MP, Alexandra matou o filho por se sentir incomodada pelo menino se negar a acatar suas ordens.