Após dois anos de investigação, a Polícia Civil gaúcha deflagrou nesta segunda-feira (12) uma megaoperação contra facção baseada no Vale do Sinos e que atua no tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e associação criminosa. Dentre os presos está um ex-vereador de Cachoeirinha (Região Metropolitana), por suposto envolvimento com o grupo, responsável pelo maior esquema logístico de distribuição de maconha no Rio Grande do Sul.
Ele foi localizado no mesmo sítio em que já havia sido preso, há dois anos. A suspeita é de que ele alugasse a propriedade para descarregamento de parte da droga, procedente do Paraguai.
Com apoio da Brigada Militar e forças de segurança pública de Santa Catarina e Paraná, a ofensiva também percorreu endereços nesses dois Estados. Em solo gaúcho, a lista incluiu a já mencionada Cachoeirinha e, ainda, Porto Alegre, Canoas, Viamão, Gravataí, Esteio, Novo Hamburgo, Charqueadas, Estância Velha, Osório, Tramandaí, Soledade, Pelotas, Passo Fundo e Cruz Alta.
Cerca de 500 agentes garantiram o cumprimento de 14 mandados de prisão preventiva ou temporária, bem como mais de 300 ordens judiciais de busca, apreensão, quebras de sigilo e bloqueios de valores bancários e bens como imóveis, joias e carros de luxo. Também foram recolhidas armas e dinheiro em cédulas. De acordo com a corporação, o total movimentado pela facção pode chegar a quase R$ 105 milhões.
O esquema envolvia, a cada quinzena, o transporte de até 3 toneladas de maconha. A droga era adquirida no país vizinho e levada à Região Metropolitana de Porto Alegre, sendo então distribuída a traficantes por meio de um sistema no qual eles acertavam previamente os seus respectivos percentuais na divisão dos lotes, em uma espécie de consórcio.
Dissimulação de capitais
A fação recorria a técnicas de dissimulação financeira para burlar fiscalização contábil e rastreio dos ativos, inclusive por meio de “laranjas” com ficha-limpa e do uso de cheques para pagamentos e descontos com um empresário. Apontado como operador financeiro, ele já estava preso antes da operação.
Para ocultar a posse de veículos de luxo e bens como lanchas, a organização também se valia de pessoas que emprestavam seus nomes e cadastros. Esses automóveis, aliás, também serviam como moeda de troca entre criminosos, mudando com frequência de usuários.
Um gaúcho morador de Santa Catarina e que foi recentemente preso chegou a ter em sua posse quase 2 milhões de reais em carros de alto valor. Ele é suspeito de atuar como mediador na compra da droga e de praticar técnicas de burla ao sistema bancário para pagamentos aos demais participantes do tráfico.
Uma rede de empresas reais ou de fachada mascarava negócios ilícitos. Isso gerava confusão intencional de patrimônio e movimentação financeira proposital no fluxo de valores com pessoas físicas e jurídicas, mas a investigação conseguiu encontrar os “fios da meada” e obter o devido mapeamento do esquema.