A consagrada jornalista brasileira Gloria Maria, que participou dos programas Fantástico e Globo Repórter, da TV Globo, além de ter sido repórter da emissora, morreu nesta quinta-feira, aos 73 anos, no Hospital Copa Star, no Rio de Janeiro. Gloria foi diagnosticada com câncer de pulmão há quatro anos, que teve um tratamento bem sucedido, porém enfrentava metástases recentes do tumor no cérebro.
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Qual foi a causa da morte de Gloria Maria?
“Em 2019, Glória foi diagnosticada com um câncer de pulmão, tratado com sucesso com imunoterapia. Sofreu metástase no cérebro, tratada em cirurgia, também com êxito inicialmente. Em meados do ano passado, Glória Maria começou uma nova fase do tratamento para combater novas metástases cerebrais que, infelizmente, deixou de fazer efeito nos últimos dias, e Glória morreu esta manhã”, diz comunicado da emissora.
Em dezembro do ano passado, a TV Globo já havia dito que Glória ficaria afastada da televisão para realizar um novo tratamento contra um câncer, sem ter especificado qual.
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O que é a metástase no cérebro, diagnóstico de Gloria Maria?
Em 2019, quando a jornalista foi diagnosticada com um câncer no pulmão, o tratamento com imunoterapia foi considerado bem sucedido. O método, inovador, estimula o próprio sistema imunológico para combater as células cancerígenas e, por isso, evita os efeitos colaterais por vezes graves da quimioterapia e da radioterapia.
Porém, no mesmo ano, após sofrer um desmaio, Glória descobriu uma metástase do câncer no cérebro . O quadro grave ocorre quando as células cancerígenas progridem, entram na corrente sanguínea, e atingem outros órgãos além do original da doença, explica o diretor médico de Oncologia e Hematologia da Beneficência Portuguesa de São Paulo William Nassib William Junior, coordenador do comitê de tumores torácicos da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC).
— O câncer em geral nasce em algum órgão, o que chamamos de sítio primário. Quando ele está apenas ali, ele está em estágio inicial. Mas sem tratamento, ele cresce e começa a se espalhar. No caso do de pulmão, isso começa pelos gânglios que estão próximos, o que chamamos de uma metástase regional. Em seguida, se espalha para um outro órgão, que chamamos de metástase a distância. Nesse caso ele sai do sítio inicial e vai parar em outro lugar, e os que o câncer de pulmão mais gosta são o outro pulmão, o osso, o fígado, a glândula suprarrenal e o cérebro. Mas pode acontecer com qualquer outro órgão — afirma o médico
A oncologista do Grupo Oncoclínicas no Rio de Janeiro, Tatiane Montella, explica que, como o câncer de pulmão é considerado um tumor silencioso, que não provoca muitos sintomas nos estágios iniciais, é relativamente comum um paciente com o problema descobrir na fase em que já está em metástase. É o que provavelmente aconteceu com Glória. Ao descobrir o câncer, conseguiu tratá-lo aparentemente no pulmão, porém ele já deveria ter se espalhado para o cérebro.
— Sabemos que por volta de 70% dos pacientes já fazem o diagnóstico com a doença avançada, já com metástase. Porque é uma doença de curso muito silencioso, então são poucos os pacientes que conseguem fazer o diagnóstico com a doença inicial, apenas no pulmão — afirma.
Ao descobrir a metástase, Glória realizou uma cirurgia para retirada do tumor, também bem sucedida, e continuou um tratamento com radioterapia e imunoterapia para eliminar resquícios do câncer no pulmão e evitar a recorrência. Os procedimentos foram considerados satisfatórios e, até o ano passado, a jornalista estava bem.
— A gente ouve falar em milagres, mas sempre guarda uma dúvida, né? No meu caso, por eu ter vivido tudo o que vivi e saído da forma como saí, hoje posso dizer, com toda certeza, que isso existe. Agora eu acredito em milagre, porque vivi um. Dia desses, diante dos bons resultados dos meus últimos exames, recebi uma mensagem do meu médico: “Um ano depois, você está zerada e melhor do que antes”. É isso. Estou inteirinha e pronta para encarar o mundo outra vez — chegou a declarar em entrevista ao jornal Extra na época.
Tratamento de Gloria Maria 'deixou de fazer efeito nos últimos dias'
Segundo o comunicado da TV Globo, no entanto, em meados do ano passado foram detectadas novas metástases no cérebro, o que levou a jornalista a dar início a uma nova etapa do tratamento. Porém, a emissora diz que ele “deixou de fazer efeito nos últimos dias”, o que provocou o óbito de Glória.
William Junior explica que, mesmo quando se espalha para outro órgão, o câncer continua a ser do local de origem. Por isso, ainda que Glória tenha sido diagnosticada com novas metástases no cérebro, isso quer dizer que parte do tumor no pulmão não havia sido eliminado e continuava a se disseminar dali para o outro órgão.
— A metástase mostra que o tumor está mais agressivo porque as células estão se espalhando, caindo na corrente sanguínea, circulando no organismo e indo parar em um órgão a distância. Quando ressurge em outro órgão, significa que ficou uma célula microscópica do câncer no pulmão, que não tinha sido detectada pelos exames, e ela circulou e começou a crescer novamente no cérebro. A origem continua a ser no pulmão, ele continua lá. Nós só sabemos se a pessoa foi de fato curada depois de um acompanhamento de muitos anos para identificar que de fato o câncer desapareceu do corpo da pessoa— diz.
Qual é o tratamento para metástase no cérebro?
Quando o câncer sofre metástase, ou seja, passa a se espalhar pelo corpo, a terapia curativa – para eliminar a doença – de fato é mais desafiadora. Isso porque o tumor encontra-se em um estágio avançado, e a taxa de mortalidade quando isso ocorre no cérebro é considerada alta. Estimativas sugerem que quase metade das metástases cerebrais sejam decorrentes dos tumores pulmonares, como foi o caso de Glória.
Muitas vezes, devido à extensão da metástase, a agressividade dos tratamentos e a alta taxa de letalidade, os médicos focam a terapia em aliviar os sintomas da metástase no cérebro e oferecer qualidade de vida ao paciente.
— Nessa situação, em geral os tratamentos mais recomendados são os com medicamentos, porque eles circulam pelo organismo e vão tratar o tumor no sítio inicial, no órgão com a metástase e nas células que estão circulando. O grande problema é que uma doença que está com metástase na grande maioria das vezes você não consegue eliminar. Os medicamentos conseguem colocar em controle por um tempo, mas eles vão perdendo o efeito, e as células vão se espalhando — explica o oncologista da SBOC.
Porém, ele destaca que, no caso do de pulmão, o tratamento tem avançado nos últimos anos e é essencial para garantir mais qualidade de vida e prolongar o tempo da pessoa. Além disso, alguns contam com poucos efeitos colaterais e são administrados por comprimidos diários, o que torna a adesão mais fácil.