Milhares de pessoas foram às ruas no sábado (17) na Venezuela e em cidades estrangeiras para reivindicar a vitória da oposição contra o ditador Nicolás Maduro nas eleições de 28 de julho. Em Caracas, a líder opositora María Corina Machado esteve presente depois de 14 dias escondida por medo de ser presa por causa de uma investigação aberta contra ela e outros opositores pelo regime chavista.
A nova mobilização ocorreu três semanas depois de as autoridades eleitorais proclamarem a vitória de Maduro em meio a evidências de fraude. Além de cidades venezuelanas, a oposição convocou manifestações em 300 cidades de países que possuem a presença de milhares de migrantes. “Não vamos deixar as ruas”, declarou Corina Machado na avenida Francisco Miranda, uma das mais movimentadas de Caracas.
Acompanhada de outros dirigentes opositores, María Corina apareceu segurando uma bandeira da Venezuela e pediu uma mobilização permanente de seus apoiadores. “Este é o momento de cobrar, e o que significa cobrar? Significa que cada voto seja respeitado. (…) Que o mundo e todos dentro da Venezuela reconheçam que o presidente eleito é Edmundo González”, afirmou.
Após o discurso, a opositora se retirou do protesto em meio a manobras para despistar automóveis suspeitos de serem dos serviços de inteligência venezuelanos. Um forte aparato policial acompanhou os manifestantes na capital e algumas prisões foram registradas pela oposição após os protestos.
Os opositores também denunciaram prisões arbitrárias de políticos e militantes nas horas que antecederam o ato. Embora tenha atraído milhares de pessoas, o comparecimento foi menor que os atos de 29 de julho, reprimidos pela ditadura chavista. Estima-se que na ocasião 25 pessoas foram mortas e 2,4 mil, detidas sob a acusação de terrorismo.
O opositor Edmundo González Urrutia, que disputou a eleição contra Nicolás Maduro, não participou do protesto. Assim como María Corina, ele é alvo de uma investigação criminal e está escondido para não ser preso. As autoridades chavistas acusam os opositores de incitar os venezuelanos “à rebelião”.
Em um vídeo publicado nas redes sociais, González Urrutia disse que as manifestações “são uma força que fará respeitar a decisão de mudança”. “Temos os votos, temos os registros, temos o apoio da comunidade internacional e temos os venezuelanos decididos a lutar por nosso país”, acrescentou.
Protestos globais
O chamado da oposição para reivindicar a vitória de González Urrutia também provocou protestos em cidades estrangeiras, que receberam nos últimos anos os oito milhões de venezuelanos que deixaram o país por causa das crises econômicas e políticas. “Sinto que o país é um só agora. Voltamos a ser um”, declarou o venezuelano Kevin Lugo, de 28 anos, organizador da manifestação em Sydney.
Os atos também foram registradas na Cidade do México, Madri, Tóquio, Bogotá e em cidades dos Estados Unidos. Os manifestantes pediram aos governos estrangeiros que intervenham em Caracas e demonstrem apoio a González Urrutia. “Minha família está na Venezuela. Eu quero que seja um país livre, que haja oportunidades”, afirmou o venezuelano Darwin Linaes, de 23 anos, no protesto em Madri.
Em Bogotá, onde o presidente colombiano Gustavo Petro se apresenta como um dos mediadores em busca de uma saída para a crise no país vizinho, centenas de venezuelanos foram às ruas para declarar Urrutia vencedor. “Temos que defender os votos. Isso é o suficiente. Eles não podem nos roubar o país”, disse o venezuelano David Bautista.
Chavistas
Em resposta à mobilização da oposição, o regime chavista também convocou manifestações para defender o resultado oficial da eleição, que deu a vitória a Maduro. Diferentes setores do chavismo se manifestam quase diariamente no palácio de Miraflores em apoio ao ditador.
Os chavistas se encontraram no centro de Caracas, onde marcharam em apoio ao regime. “O povo venezuelano sofreu demasiados bloqueios, demasiados ataques e este novo ataque nós vamos derrotar”, declarou o líder comunitário Aurimar Nieves, de 46 anos.
Os apoiadores chamam a oposição de “golpista” e as atas que mostram a vitória de González Urrutia com mais de 60% dos votos, publicadas online pelos adversários, de “falsas”. As atas oficiais não foram publicadas pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), a autoridade eleitoral do país. “As atas são puras mentiras deles. Não há provas”, disse Carmen Bolívar, costureira de 63 anos.