Após ser eleito presidente da Argentina, o ultraliberal Javier Milei afirmou em entrevistas a veículos de comunicação locais que nos primeiros dois anos de seu governo serão de estagflação, a combinação de inflação alta e recessão. A partir disso, moradores de Buenos Aires começaram a fazer estoques de produtos não perecíveis como forma de driblar a possível alta de preços, haja vista que, após a posse de Milei no último domingo (10), o controle de preços para alguns produtos da cesta básica, promovido pelo governo anterior, se acabou.
O cientista político Massimiliano Pisani, que enchia o seu carrinho de compras em uma varejista de Buenos Aires se abastecia para fugir da alta de preços propagada por Milei. O que Pisani mais teme é ter que pagar muito mais caro pelo papel higiênico, “cujo preço já está bem alto”, disse ele, e pelo azeite, iguaria da qual ele não abre mão.
Já a designer Juliana, estava preocupada porque ainda não tinha conseguido fazer um estoque, principalmente de produtos de limpeza.
“Todo fim de ano eu e meu marido fazemos uma compra grande de produtos não perecíveis e, este ano, mais do que nunca, precisamos fazer”, afirmou. “Agora, como ainda não sabemos a dimensão da dispensa que teremos no novo apartamento, não compramos os produtos que queremos estocar”, disse, apreensiva, que esperava, o quanto antes, fazer uma compra grande para durar até, pelo menos, seis meses.
Enquanto Nicolás Vaccaneo, dono de um atacadista que há 36 anos abastece principalmente pequenos varejistas e armazéns de Buenos Aires, comentou que tem notado um crescimento no número de consumidores finais que estão comprando em sua megaloja. Vaccaneo não acredita que haverá hiperinflação e projeta que a estagflação levará as pessoas a recorrerem ao mercado mais perto de casa.
“O consumidor irá mais vezes às compras, mas vai levar para casa menos produtos. O ano de 2024 será bom para o pequeno comércio, não tanto para os hipermercados e os atacadistas”, afirma ele.
No seu discurso de posse, Javier Milei disse que “hão havia dinheiro” e que o país deveria se preparara para um “choque” econômico. Segundo informações do jornal Ambito Finaciero, o plano terá quatro eixos centrais: um rigoroso ajuste fiscal para alcançar rapidamente o déficit zero, um salto na desvalorização da taxa de câmbio oficial, fim do controle de preços e a eliminação dos passivos remunerados do Banco Central.
Na última semana, antes da posse de Milei, o jornal argentino Clarín informou que a versão que circulava no círculo mais íntimo do presidente continha 14 medidas, incluindo privatizações.
Nesta segunda-feira (11), o porta-voz do governo argentino, Manuel Adorni, disse que as medidas a serem anunciadas nesta terça (12) terão “forte corte fiscal com remoção de privilégios”.