Contagem regressiva para o colapso. Hospitais em Gaza estão mais próximos de se transformar em necrotérios, como havia alertado na última semana a Cruz Vermelha sobre o risco de faltar energia. Médicos que estão trabalhando em Gaza afirmaram que milhares de pacientes morrerão se os hospitais lotados de feridos ficarem sem suprimentos básicos e combustível para gerar energia elétrica.
O diretor da Cruz Vermelha para a região, Fabrizzio Carboni, disse que a falta de energia nos hospitais representaria uma tragédia ainda maior.
“Sem eletricidade, os hospitais correm o risco de se transformar em necrotérios”, afirmou.
Conforme a Organização das Nações Unidas (ONU), as unidades de saúde vão parar de funcionar nas próximas horas caso não recebam combustível. A única central elétrica de Gaza foi fechada, depois de Israel determinar um bloqueio total ao território.
No Hospital Nasser, na cidade de Khan Yunis, no sul, as UTIs estavam cheias, a maioria de crianças com menos de 3 anos. Centenas de pacientes com ferimentos graves, em razão de explosões, deram entrada nos últimos dias. Segundo Mohammed Qandeel, médico intensivista do local, o combustível para os geradores deve acabar hoje.
Qandeel diz que há 35 pacientes na UTI que dependem de respiradores e outros 60 em diálise.
“Quando acabar o combustível, todos os equipamentos vão ser desligados”, disse. “Estamos falando de outra catástrofe, de outro crime de guerra, de uma tragédia histórica”, disse ele, enquanto grito de criança podia ser ouvido ao fundo. “Todos esses pacientes correm o risco de morrer se houver falta de energia.”
Ghassan Abu-Sittah, cirurgião que trabalha no Reino Unido, chegou a Gaza na última semana e permaneceu na região norte, trabalhando num hospital local. Ele disse que duas meninas, de quatro e cinco anos, foram trazidas com queimaduras e ferimentos na cabeça.
“Elas foram as únicas retirados da casa da família como sobreviventes. Todos os dias temos casos como estes”, afirmou Abu-Sittah, explicando que a maioria das pessoas permanece na zona de evacuação.
“Tornar-se refugiados é uma parte tão importante da identidade dos palestinos que as pessoas simplesmente não querem passar por isso novamente”, disse ele, acrescentando que áreas consideradas seguras foram bombardeadas com a mesma ferocidade que outras.
No Hospital Kamal Alwan, no norte da Faixa de Gaza, Hussam Abu Safiya, diretor da ala pediátrica, disse que eles não haviam se retirado do local apesar da ordem israelense, pois não havia uma maneira de transferir pacientes sem colocar suas vidas em perigo. De acordo com ele, sete recémnascidos estavam na UTI usando respiradores.
“Não podemos sair daqui, isso significaria a morte deles (das crianças) e de outros pacientes sob nossos cuidados”. Além disso, mais pessoas continuaram a chegar com membros decepados, queimaduras graves e outros ferimentos potencialmente fatais. “É assustador”, disse.
O Hospital Shifa, o maior do território, informou que iria enterrar cem corpos numa vala comum como medida de emergência, porque seu necrotério estava lotado e as famílias não tinham como enterrar os parentes. Gaza já passava por uma crise em razão da crescente escassez de água e de suprimentos médicos causada pelo bloqueio israelense.
O conselheiro de segurança nacional dos EUA, Jake Sullivan, disse à CNN que as autoridades israelenses o informaram que haviam restaurado o serviço de água no sul da Faixa de Gaza. Israel Katz, ministro da Energia e Água de Israel, informou, em um comunicado, que o abastecimento de água foi restabelecido “num ponto específico” em Gaza, mas não deu detalhes. Grupos de ajuda humanitária no território afirmam não ter visto nenhuma evidência de que o serviço tenha voltado a funcionar.