O ministro das relações exteriores do Brasil, Mauro Vieira, afirmou que negociou com o Egito a saída, neste sábado (14), dos brasileiros na Faixa de Gaza.
O clarão das bombas iluminou o amanhecer sem luz em Gaza. Ahmad el Ajrami, um dos brasileiros que estão na escola católica transformada em abrigo, registrou a situação na madrugada. Como praticamente toda a região, a escola estava no escuro.
“Não tem energia, não tem luz, olha, olha, gente”, diz.
O medo tomou conta dos brasileiros, o colégio fica exatamente no norte, na área da Faixa de Gaza que Israel avisou para a população civil deixar. O Itamaraty afirma que já comunicou a Israel que a escola está sendo usada como abrigo para cidadãos brasileiros. Não houve resposta oficial. No início do dia, mais seis brasileiros que estão em Gaza se juntaram aos que foram levados para a escola – totalizando 19 pessoas. Onze delas, crianças.
Shared, de 18 anos, chegou com a irmã de 13 anos e a avó, de 64 anos. No caminho, ela registrou a destruição na cidade. “Olha, tudo destruído. Ali a minha faculdade. Tudo destruído.”
Na escola, em entrevista ao vivo à Globonews, ela fez um relato do desespero.
“Estou desesperada, a situação tá difícil, todo mundo está com medo, as crianças estão chorando, tô muito desesperada. Eu estou na escola e a irmã da igreja reuniu com a gente e disse que a escola não é mais um lugar seguro. Eu não quero morrer, gente”.
Mal tinha chegado e ela já teve que se preparar para sair.
“Não tem ninguém ferido, mas a gente não pode mais ficar aqui. A gente vai deixar tudo. Os alimentos não vamos conseguir levar nada. Estou há seis dias sem dormir, eu estou tonta, não estou conseguindo mais pensar em nada, eu não sei o que fazer. ”
Pouco depois, a entrevista precisou ser interrompida. “Eu vou ter que desligar, a gente vai ter que sair daqui agora”.
As malas já estavam prontas. Mas, por causa da destruição e perigos do trajeto, o ônibus enviado pela representação diplomática do Brasil na região só conseguiu chegar à escola depois do anoitecer. E aí, por segurança e pela falta de luz, a viagem foi suspensa e será feita neste sábado.
Segundo o Ministério das Relações Exteriores, o grupo deve ser levado para a cidade de Khan Yunis, que fica no sul da Faixa de Gaza. Um trajeto de 25 quilômetros, em geral, feito em cerca de 30 minutos, mas que tem levado mais de duas horas, por causa da destruição pelo caminho. Outros 12 brasileiros já estão em Khan Yunis, esperando para ser repatriados.
De lá até a passagem de Rafah, único acesso ao Egito, são mais 16 quilômetros. Mas a fronteira egípcia ainda está bloqueada.
De acordo com o Palácio do Planalto, o assessor especial para assuntos internacionais da presidência, Celso Amorim, manteve contato com autoridades do Egito, da China e da Turquia, além da Liga Árabe, para tentar ajudar a construir uma solução pacífica para o conflito. Também foi discutido apoio para a estratégia de resgate de brasileiros na área.
O avião da Força Aérea que decolou aqui de Brasília com a missão de resgatar os brasileiros que estão em Gaza já chegou a Roma (Itália). Ele tem capacidade para 40 passageiros.
Enquanto a solução não vem, a tensão das famílias continua com explosões bem perto da escola.
“Todos nós descemos pra cá. O ataque foi muito perto. Foi aqui o ataque, foi aqui”, diz.
Depois da reunião do Conselho de Segurança da ONU em Nova York, o ministro das relações exteriores, Mauro Vieira, falou sobre as negociações com o Egito e disse esperar que os brasileiros consigam sair neste sábado de Gaza.
“O governo brasileiro negociou para que os brasileiros que se encontram em Gaza possam sair pelo Egito. É a única forma de sair. E sairiam neste ônibus que os transportará neste sábado e o que nós propusemos é que saíssem e fossem levados até um aeroporto de uma localidade muito próxima da fronteira aonde um avião da Força Aérea Brasileira estará esperando. O avião já está em Roma esperando que eles cheguem para poder levá-los. A ideia do governo foi de retirá-los o mais rápido possível pela saída do Egito e colocá-los no avião o mais rápido possível também.”