Uma aeronave fretada, com 172 israelenses que estavam em diversos países da América do Sul, incluindo o Brasil, saiu nesta sexta-feira (13) de Guarulhos (SP), em direção a Tel Aviv, capital de Israel. O voo particular foi autorizado pela Agência Nacional da Aviação Civil (Anac) a partir do Aeroporto Internacional de São Paulo.
Ela atendeu o pedido feito por uma empresa portuguesa. A situação é excepcional por conta da guerra entre Israel e o Hamas, na Faixa de Gaza. Inicialmente o número de passageiros era de 254 israelenses, mas ele diminuiu, segundo fontes do Consulado de Israel no Brasil.
Entre o grupo, estão aqueles que foram convocados pelo governo israelense para ir à guerra, turistas que querem voltar ao país de origem, e voluntários que desejam ajudar as vítimas. O grupo conta com 175 israelenses convocados. O Consulado de Israel no Brasil detalhou que os jovens têm idades entre 20 a 30 anos. Para retornarem ao próprio país, fretaram um avião, financiado pela comunidade judaica brasileira e pela organização de arrecadação de fundo para Israel, chamada Keren Hayesod.
O avião usado é um modelo A330-200, com capacidade para 298 passageiros. Antes de chegar a Tel Aviv, pelo plano de voo, o avião precisará fazer um pouso técnico em Cabo Verde para reabastecimento. Até o momento, apenas uma empresa fez o pedido à Anac. Para liberar a entrada do avião no espaço aéreo brasileiro e pouso (chamado de posicionamento) e também a decolagem com o grupo, a agência reguladora precisou fazer a análise da documentação da aeronave, da tripulação e as certificações necessárias para a operação.
Com a documentação aprovada, a aterrisagem e a decolagem serão liberadas. Não cabe à agência, no entanto, verificar se haverá condições de pouso no país de destino. Em nota, a Anac informou que não tem informação com relação aos passageiros saindo do Brasil para Tel Aviv.
“Com relação ao fretamento de voos saindo do Brasil para levar passageiros para Israel, recebemos um pedido de autorização para um voo previsto para amanhã, da empresa portuguesa HiFly. Essa operação já está autorizada no tocante aos direitos de tráfego envolvidos, que é nossa atribuição. Segundo informações da empresa, esse voo seria Guarulhos/Israel, com parada técnica em Cabo Verde. Não temos conhecimento de outro pedido semelhante por enquanto. Com relação a voos regulares saindo do Brasil rumo a Israel, recomendamos que entre em contato com as companhias aéreas”, diz o comunicado.
A respeito da situação de Israel, a agência disse que, “para o caso dos passageiros que se encontram no Brasil e que compraram passagem aérea para Israel, de acordo com a Resolução ANAC nº 400/2016, as alterações e cancelamentos programados de voos devem ser comunicados aos passageiros com antecedência mínima de 72 horas com relação ao horário do voo”.
“Nessas situações, caso haja o cancelamento do voo ou caso a alteração do seu horário seja superior a 30 minutos para voos domésticos ou a 1 hora para voos internacionais, a empresa deve oferecer ao passageiro as alternativas de reacomodação em outro voo e de reembolso integral (à escolha do passageiro)”, segue o texto.
Tal Hisherik, 22 anos, estava há seis meses viajando pela América do Sul e decidiu voltar para casa.
“Foi minha decisão. Meus pais e meus amigos estão lá, se tiver algo que eu possa fazer, eu acho que é importante, vou ajudar em hospital, com doação de sangue. É estranho estar aqui enquanto o pessoal em Israel está sofrendo”, explicou.
A jovem relata os dias de angústia que tem passado acompanhando o noticiário e longe da família.
“Estou dilacerada. Nessa última semana eu fiquei no meu apartamento, não consegui me divertir, sempre ouvindo sobre pessoas morrendo, ouvindo sobre os meus amigos lutando, eu não conseguia aproveitar aqui.”
Jonathan, de 22 anos, conta que estava na Colômbia quando soube do ataque. Reservista, ele acionou o comando militar dizendo que queria voltar.
“Não é porque nós odiamos o Hamas ou Palestinos, é porque nós amamos Israel, essa é a única razão. Perdi dois amigos no festival”, disse.
“Eu não tenho tempo pra ficar com medo. Eu me recrutei. Tenho vários amigos da reserva lutando, familiares em suas casas.”
O paramédico Daniel Taller, de 29 anos, estava fazendo uma pesquisa com comunidades indígenas no norte da Colômbia. A previsão era a de ficar no local até o final do ano. Mas adiou os planos por conta da guerra.
“Minha família está lá, meus amigos, minha namorada e eu sou paramédico no serviço de emergência e eles precisam de ajuda. Todos os hospitais estão colapsando com feridos e muitos médicos e paramédicos foram para o exército para lutar. Eles precisam de mais ajuda médica. Não tinha uma opção de ir ou não.”
Roni Harel, 31 anos, e o marido passavam a lua de mel no Brasil. Eles estavam em Morro de São Paulo, na Bahia.
“Nós vamos voltar ao exército depois desse voo. Nós estamos tristes e feridos com tudo o que está acontecendo em Israel.”
Antes de embarcar, Harel contou que conhece muitas pessoas que foram sequestradas e mortas em uma festa rave, a Universo Paralello, quando o Hamas deflagrou o ataque terrorista.
“É assustador, não vou mentir, tenho pesadelos, meu corpo está tremendo, não é uma situação fácil. Nós nunca passamos por uma situação dessas, acho que nunca houve algo assim, o número de mortos é insano. Então é assustador, mas é o único lugar onde quero estar agora.”