A guerra na Ucrânia, que começou no dia 24 de fevereiro de 2022 não deve acabar tão cedo, matou milhares, reduziu cidades inteiras a escombros, fez milhões de refugiados e alimentou temores de uma nova guerra mundial envolvendo armas nucleares da Rússia e dos Estados Unidos.
A invasão, que começou com bombardeios constantes e rápido avanço de tropas russas, passou por um período de estagnação, uma contraofensiva das tropas da Ucrânia e ataques a infraestrutura energética.
Lançada quando o mundo ainda se recuperava da pandemia de covid, a invasão da Ucrânia por forças da Rússia sob as ordens do presidente Vladimir Putin teve sérias repercussões globais, cujos efeitos perdurarão por décadas.
A guerra transformou a ordem internacional vigente desde o fim da Guerra Fria, com efeitos para a globalização, a segurança na Europa, as alianças entre os países, o mercado de energia e a segurança alimentar de centenas de milhões de pessoas, incluindo na África e no Oriente Médio.
Confira as sete consequências da guerra
1. Uma nova segurança – Os países europeus responderam à guerra investindo muito mais em defesa. A mudança foi sentida principalmente na Alemanha, cujo chanceler, Olaf Scholz, passou a dedicar 2% do Orçamento à defesa, um aumento de 50% em relação aos últimos anos. O país também quebrou um tabu vigente há décadas e passou a enviar armas para zonas de conflito.
2. Um perigo nuclear reforçado – Diversas vezes Putin, sinalizou que pode recorrer a armas nucleares para impedir uma derrota completa de suas tropas no campo de batalha. O presidente russo informou que a Rússia suspenderá sua participação no Novo Start, o último tratado de controle de armas vigente entre o seu país e a Otan. As ameaças têm o intuito de intimidar a Ucrânia e seus aliados.
3. A separação entre a Rússia e os países do Ocidente – Impensável até meses de ser lançada, a invasão foi a maior aposta da longa carreira política de Putin. Enquanto ele estiver no poder, não haverá reaproximação da Rússia com as potências do Ocidente.
4. Mudanças nas cadeias de energia – A Rússia é há décadas um grande fornecedor global de combustíveis fósseis, como gás e petróleo. A Europa durante décadas se beneficiou destes combustíveis, comprados a preços baratos. A guerra forçou os países europeus a mudarem rapidamente suas fontes de energia.
5. A segurança alimentar global em risco – A Rússia e a Ucrânia são ambos importantes fornecedores de alimentos, exportando, juntos, cerca de 12% do consumo mundial de comida, incluindo de itens básicos como trigo, milho e óleo de girassol. Além disso, a Rússia é o maior exportador mundial de fertilizantes.
Várias regiões são altamente dependentes importações destes dois países para a sua alimentação básica Juntos, os países em guerra fornecem mais de 50% das importações de cereais no Norte de África e no Médio Oriente, enquanto os países da África Oriental importam 72% de seus cereais da Rússia e 18% da Ucrânia.
As sanções contra a Rússia não miram no seu setor agrícola, mas, mesmo assim, afetam as exportações.
6. Alianças em transição – Os países se posicionaram de três formas diferentes sobre o conflito: há os que prometeram apoio à Ucrânia, os aliados de Putin e aqueles que não querem se envolver diretamente e buscam dialogar com os dois lados.
Entre os aliados da Ucrânia, estão os países do G7 e da União Europeia, reunidos em um bloco de 50 países que fornecem apoio militar a Kiev. Dentre os aliados de Putin estão o Irã, a Síria e a Bielorrússia, antigos amigos a quem ele pediu favor.
E os que evitam tomar partido incluem todos os outros, que buscam fazer negócios com os dois lados e evitar ter grande envolvimento.
7. Uma nova Ucrânia, de futuro incerto – Os protestos do Euromaidan a partir do final de 2013, quando manifestantes pró-integração europeia levaram à deposição do presidente pró-Moscou Viktor Yanukovych, são o primeiro grande marco do distanciamento entre os ucranianos e a Rússia.
Os manifestantes exigiam maior aproximação com a União Europeia (EU), além de providências quanto à corrupção no governo.
Este desejo de adotar uma identidade europeia ganhou uma força sem precedentes com a guerra. Para a grande maioria dos ucranianos hoje, a Rússia é um poder colonial tentando subjugar um país vizinho que deseja decidir seu próprio rumo.
Isso marcou uma mudança nas divisões de identidade étnica que anteriormente definiam o país. O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, incorpora essa mudança.
Em um gesto de solidariedade, a UE concedeu à Ucrânia o status de candidato ao ingresso no bloco, tornando plausível a possibilidade de adesão num futuro pós-guerra.