A advogada criminalista Tatiana Borsa foi destituída neste sábado da defesa do humorista e influenciador digital Dilson Alves da Silva Neto, conhecido como Nego Di. Dois dias antes, ela havia conseguido no Superior Tribunal de Justiça (STJ) um habeas corpus que garantiu liberdade provisória ao ex-BBB. Nego Di estava preso havia quatro meses, sob acusações de estelionato qualificado, fraude eletrônica e lavagem de dinheiro. Ele é investigado por supostamente enganar mais de 300 pessoas e causar um prejuízo superior a R$ 5 milhões.
No mesmo dia da soltura de Nego Di, Tatiana foi às redes sociais “com um sorriso no rosto” e uma taça de espumante na mão para comemorar o êxito nos tribunais superiores. Em uma imagem publicada no Instagram, ela aparece ao lado da advogada Camila Kersch, brindando a liberdade do cliente. Na foto, Nego Di surge ao fundo, também sorrindo. O problema é que uma das condições impostas pela Justiça para a libertação do ex-BBB era justamente que ele não frequentasse nem utilizasse redes sociais, já que os crimes pelos quais é acusado foram cometidos na internet.
Como parte das comemorações, Nego Di promoveu um churrasco em casa, regado a pagode e bebidas alcoólicas. Os registros da festa viralizaram nas redes sociais. Devido à exposição excessiva do acusado, o Ministério Público do Rio Grande do Sul abriu um procedimento para avaliar se ele violou as condições do habeas corpus. Além de ficar afastado das redes sociais, Nego Di deve comparecer periodicamente em juízo para relatar suas atividades, não mudar de endereço e entregar o passaporte.
Procurada pelo GLOBO logo após a postagem das fotos de Nego Di, Tatiana afirmou que não via problema, pois a proibição do STJ era que o cliente não utilizasse suas próprias redes. “No caso, as fotos foram postadas no meu perfil do Instagram, e não no dele”, justificou. Minutos depois, ela apagou a postagem. Em seguida, foi destituída pelo cliente. Procurada, Tatiana não quis se manifestar.
Não é a primeira vez que Tatiana enfrenta polêmicas em sua carreira. Em 2021, ela defendeu Marcelo de Jesus dos Santos, vocalista da banda Gurizada Fandangueira, no julgamento do caso da boate Kiss, ocorrido no Tribunal do Júri do Foro Central de Porto Alegre. Em 2013, um incêndio na casa noturna matou 242 pessoas, em Santa Maria (RS).
Espírita, Tatiana usou no tribunal uma carta psicografada atribuída a uma das vítimas como parte de sua estratégia de defesa, buscando trazer perspectivas de perdão e aceitação divina ao júri. A decisão gerou indignação entre as famílias das vítimas, mas foi aceita no processo sem oposição do Ministério Público. Na prática, a estratégia não foi eficaz. Marcelo, que levantou um artefato pirotécnico ao teto da boate, iniciando o incêndio, foi condenado a 18 anos de prisão por homicídio simples com dolo eventual.
Sem controle
Atualmente, Nego Di é defendido somente pela advogada Camila Kersch. Tatiana deixou o caso sem receber seus honorários, pois as contas e os bens do ex-BBB estão bloqueados pela Justiça. A advogada esclareceu que ainda não há data para audiência em que o humorista explicará as postagens nas redes sociais. “Ele está à disposição da Justiça para quaisquer esclarecimentos. Sua intenção sempre foi cumprir fielmente a decisão judicial. No entanto, ele não tem controle sobre publicações feitas por terceiros nas redes sociais”, afirmou.
Nego Di enfrenta acusações de estelionato qualificado por fraude eletrônica e lavagem de dinheiro. Juntamente com Anderson Boneti, ele é acusado de lesar mais de 370 pessoas entre março e julho de 2022, por meio de vendas fraudulentas no site Tadizuera. Investigações da Polícia Civil revelaram movimentações financeiras superiores a R$ 5 milhões em contas ligadas ao influenciador. As vítimas adquiriram produtos como televisores e celulares, mas nunca os receberam, tampouco reembolsos. A promotoria alega que Nego Di usou sua imagem pública para ampliar o alcance dos anúncios fraudulentos, atraindo vítimas em todo o Brasil.
Antes das acusações, Nego Di era conhecido como influenciador digital e humorista de Porto Alegre. Ele ganhou notoriedade nacional em 2021, ao participar do Big Brother Brasil, de onde foi eliminado com 98,76% dos votos depois de 22 dias de confinamento. Após o reality show, passou a promover rifas nas redes sociais, prática que levantou questionamentos legais e motivou investigações do Ministério Público. Em maio de 2024, foi condenado a apagar publicações classificadas como fake news sobre enchentes, reforçando a sequência de polêmicas envolvendo sua atuação digital.