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Até 2070, o Pantanal acaba e a Amazônia perde metade da floresta, diz climatologista

O Pantanal é um bioma extremamente rico quando o assunto é fauna brasileira

Publicada em 13/09/2024 as 07:14h por Redação O Sul
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 (Foto: Joédson Alves/Agência Brasil)

Referência internacional em estudos sobre aquecimento global, o climatologista Carlos Nobre está apavorado. Segundo ele, a crise climática explodiu antes do que os próprios cientistas previam. As ondas de calor e as secas intensas assolam o planeta e o Brasil arde em chamas – já são mais de 5 mil focos de incêndio. Para ele, todos os biomas brasileiros estão severamente ameaçados e alguns deles, como o Pantanal, podem até mesmo deixar de existir em algumas décadas.

 

 

 

 

 

 

1. Já vivemos uma crise climática semelhante?

 

Nesse nível não. Esse é o máximo que já experimentamos. A crise explodiu. Temos a maior temperatura que o planeta experimentou em 100 mil anos. Desde que existem civilizações, há dez mil anos, nunca chegamos a esse nível, em que todos os eventos climáticos se tornaram tão intensos e muito mais frequentes. Não é só aqui. No ano passado, tivemos incêndios no Canadá, nos EUA, na Europa. A diferença é que lá o fogo foi causado por descargas elétricas. Aqui não: entre 95% e 97% são causados pelo homem, são criminosos.

 

 

 

 

 

 

2. Os índices de poluição em São Paulo atingiram níveis recorde. Isso se deve mais ao tempo seco ou à alta de queimadas?

 

É uma soma de fatores. Sempre, nesta época do ano, enfrentamos o fenômeno da inversão térmica nas cidades muito urbanizadas, que esfriam muito no inverno durante a madrugada e no início da manhã. O ar quente que fica mais acima impede o ar frio de subir. A poluição das indústrias, dos ônibus e dos caminhões fica presa nesse bloqueio atmosférico. Isso já traria enorme poluição, mesmo que não houvesse queimadas, mas quando somamos a questão meteorológica com um número recorde de queimadas, temos essa situação.

 

 

 

 

 

 

3. Na gestão Jair Bolsonaro, a alta de queimadas foi atribuída a problemas na fiscalização. Agora o governo Lula diz priorizar o meio ambiente e o número de focos de incêndio é ainda maior. O governo federal tem falhado?

 

É um pouco mais complicado. Em 2023 e 2024 tivemos, sim, uma grande redução do desmatamento na Amazônia, na Mata Atlântica e até no Cerrado. Aparentemente as políticas estão sendo razoavelmente bem implementadas. Mas, então, por que as queimadas estão explodindo? Porque, tudo indica, os incêndios são criminosos. Agora, lógico, quando alguém bota fogo na floresta quando está seco e quente, as chamas se espalham mais rápido. Por mais que o desmatamento tenha sido reduzido, os grupos que fazem o desmatamento ilegal e a grilagem de terras continuam agindo.

 

 

 

 

 

 

 

4. O satélite não ajuda? O que pode ser feito para prevenir os incêndios?

 

O desafio é enorme. O criminoso bota fogo na mata em um minuto. O satélite só detecta o fogo quando ele já atingiu de 30 a 40 metros quadrados, ou seja, entre uma hora e meia a duas horas depois. Os próprios produtores agrícolas contrários às queimadas terão de se envolver, usar mais drones, tecnologia. A polícia precisa ter mais eficácia em atacar o crime organizado. E o número de brigadistas precisa aumentar. É uma guerra e temos de começar a combatê-la.

 

 

 

 

 

 

5. Na semana passada, a ministra Marina Silva (Meio Ambiente) falou que o Pantanal chegaria a um ponto irreversível até 2100. Concorda?

 

Sim, acho até que ela foi otimista. Acho que o Pantanal acaba até 2070, sem falar nos outros biomas. A Amazônia, o Cerrado, a Caatinga: todos os biomas estão em risco. Se o desmatamento continuar desse jeito, a Amazônia vai perder pelo menos 50% da floresta até 2070. O Pantanal já reduziu 30% nos últimos 30 anos; está secando. E agora o fogo destrói a vegetação.

 

 

 

 

 

 

6. Em cenário hipotético, se reduzirmos todas as emissões segundo as metas previstas, quanto tempo levaria para o clima da Terra voltar ao normal?

 

Continuamos aumentando as emissões. Batemos recorde em 2022, em 2023, e, tudo indica que bateremos de novo este ano. Mesmo que aceleremos as reduções, o aumento da temperatura média do planeta vai ultrapassar os 2°C, podendo até chegar a 2,5°C em 2050. Mesmo que começássemos a remover 5 bilhões de toneladas de gás carbônico por ano da atmosfera, lá por volta de 2100 voltaríamos a um aumento de 1,5°C. O objetivo era não deixar o aumento passar de 1,5°C. Estou apavorado. Ninguém previa isso; é muito rápido.

 

 

 

 

 

 

 

7. Nenhum cientista havia previsto isso?

 

Não, nenhum. No nosso pior cenário, chegaríamos a um aumento de 1,5°C em 2028. Milhares de cientistas estão tentando explicar o que aconteceu. Estamos tentando explicar por que aumentou mais do que tínhamos previsto.




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