“Mamãe, meu braço!”. Foi dizendo essa frase que Davi Giovanni Guimarães, de 8 anos, foi ao encontro da mãe, a camelô Aparecida Cristina Guimarães, de 37 anos, após conseguir sair sozinho do ônibus tombado, após o acidente em que teve o braço decepado, na noite de sexta-feira em São Cristóvão. O veículo da linha 476 (Méier-Leblon), em que mãe e filho estavam voltando para casa, tombou ao descer do viaduto da Linha Vermelha, em São Cristóvão, resultando em 26 feridos. A criança já passou por uma cirurgia no Hospital Quinta D'or, onde está internado, para reimplantar o membro que foi resgatado por Diego Mendes, mototaxista que socorreu mãe e filho. Segundo a mãe, os médicos disseram que o sangue já está circulando pela parte implantada.
— Eu vi a hora em que o ônibus estava descendo o viaduto, e o motorista estava um pouquinho rápido. Na hora que chegou quase perto da curva, vimos que o ônibus estava muita acelerado. Nisso, todo mundo começou a gritar e logo depois ouvimos o estouro. Era o ônibus tombando — lembra ela, que conseguiu sair antes do filho após o capotamento e, chorando, recorda como o encontrou: — Consegui sair do ônibus e fiquei "Cadê meu filho, cadê meu filho?" Depois disso, vi uma menina saindo do ônibus toda ensanguentada e já me bateu o desespero de saber onde ele estava. Na hora em que eu ia entrar no ônibus para pegá-lo, ele saiu sem um bracinho. Não sei como ele saiu, mas quando me viu, falou “Mamãe, meu braço”.
Os momentos seguintes foram de correria e desespero. Aparecida diz que logo que encontrou Davi sem o braço, o mototaxista Diego Mendes chegou e socorreu mãe e filho.
— Ele foi um anjo. Eu encontrei meu filho e o Diego logo apareceu colocando a gente na moto. Ele perguntou qual era o hospital mais próximo e falaram que era o Quinta D’or, então ele já veio direto pra cá. Desde que cheguei recebi toda a atenção. Socorreram meu filho rápido e ele não reclamava de nada, nem de dor, nem do braço. Só perguntava sobre a nossa cachorrinha, a Pandora — lembra.
Pandora foi resgatada por Diego, que também levou para o hospital o braço de Davi, que foi achado por Patrícia de Brito. Ela trabalha num bar em frente ao acidente e ajudou colocando o membro amputado dentro de uma bolsa com gelo para entregar para as equipes de resgate. Uma bombeira, vendo que o mototaxista estava ajudando a família, pediu para ele levar a bolsa para o Quinta D'Or, onde o menino está internado.
Davi está no segundo ano na escola, e Aparecida conta que ele é inteligente e estava ansioso para começar novas atividades no próximo ano.
— Ele gosta de ir à praia e gosta muito de ir para a escola. Falei que ano que vem ele vai estudar de manhã porque vou colocar ele na natação na Mangueira. Agora todo dia ele pergunta quando o ano vai acabar pra ele ir pra natação — diz ela.
Com "a cabeça a mil", Aparecida Cristina, que é conhecida como Michele pelos amigos, está na expectativa pela melhora do filho. Ela trabalha como camelô vendendo balas nos sinais perto de mercados na Zona Sul do Rio, em Ipanema e no Leblon. A mãe de Davi conta que havia comprado alguns biscoitos antes de entrar no ônibus e ir para casa, no Jacaré.
— Eu estava sentada e ele sentou em outra cadeira. Estava todo feliz com o lanchinho dele do Mcdonald’s. Ficou brincando comigo. Agora ele está sedado e vai continuar durante três dias. Vamos esperar ele sair do sedativo para ver como as coisas vão ficar. Só quero que ele saia logo para ficar tudo bem e as coisas voltarem ao normal — diz ela.
Diego viu o ônibus caído após concluir uma corrida. Ao perceber o desespero da mãe do menino que estava sem um dos braços, levou ambos de moto para uma das unidades de saúde mais próximas do local, o Quinta D'or. Após o menino ser socorrido pela equipe médica, Aparecida pediu que Diego voltasse à cena do acidente para procurar o cachorro que os acompanhava na viagem do 476. Quando voltou, o mototaxista encontrou o braço, que foi colocado numa bolsa de gelo pelos bombeiros, e o levou às pressas para a unidade hospitalar.
— Me deparei com o menino ali no meio daquela confusão. Ele só tem 8 anos, saiu sozinho, sem o braço. Ver aquela cena me impactou. A mãe dele chorava muito. O próprio Davi pediu para que eu voltasse lá para buscar a cachorrinha dele. Voltei atrás da cachorrinha e foi aí que me deparei com o braço dele já numa bolsa com gelo. A bombeira pediu para eu levar o mais rápido possível porque a melhor pessoa para fazer isso era eu. Agora é só orar, pedir a Deus para que ele consiga sair com o bracinho 100% dessa tragédia — disse Diego.
O acidente
O acidente aconteceu na noite sexta-feira (6), por volta das 22h30. O ônibus da linha 476 (Méier - Leblon) tombou na descida do viaduto da Linha Vermelha para o Campo de São Cristóvão, na altura do número 200, perto da Feira de Tradições Nordestinas. Pelo menos 26 pessoas ficaram feridas, sendo três em estado grave. Com exceção de Davi, as vítimas socorridas pelo Corpo de Bombeiros foram encaminhadas para os hospitais municipais Miguel Couto, na Gávea, Souza Aguiar, no Centro, Salgado Filho, no Méier, e Evandro Freire, na Portuguesa (Ilha do Governador).
A Secretaria municipal de Saúde informou que, das 25 vítimas que deram entrada nos hospitais de emergência da rede municipal, duas permanecem em estado grave no Souza Aguiar. Onze já foram liberadas e as demais devem receber alta ao longo do dia.
Em nota, a Polícia Civil afirmou que o acidente já está sendo investigado:
"O caso foi registrado na 17ª DP (São Cristóvão). A perícia foi realizada no local. Diligências estão em andamento para esclarecer todos os fatos", disse a polícia.