O porta-voz da presidência da Argentina, Manuel Adorni, negou que o agradecimento de Milei tenha sido direcionado ao presidente Lula após o Brasil ter assumido na quinta-feira (1) a residência oficial do embaixador argentino na Venezuela, expulso por Nicolás Maduro.
O Brasil ergueu a bandeira do País na residência, em Caracas, significando que vai defender os interesses diplomáticos argentinos na Venezuela de forma provisória. O presidente da Argentina, Javier Milei, agradeceu ao Brasil pelo gesto.
Ao ser perguntado por um repórter se o agradecimento de Milei teria sido direcionado ao presidente Lula ou ao Brasil, Adorni negou que tenha sido de cunho pessoal, e sim “em termos de relações diplomáticas”.
“Não. O agradecimento do presidente Milei é um agradecimento em termos de relações diplomáticas e no que o Brasil tem contribuído a nos ajudar nesta complexa situação com o ditador Maduro. Não acredito que tenha sido (um agradecimento) pessoal (a Lula)”, disse Adorni.
A decisão do Brasil de assumir a residência oficial do embaixador argentino na Venezuela ocorreu após o Ministério das Relações Exteriores brasileiro ter acatado um pedido de ajuda do governo argentino, que teve seus diplomatas expulsos do país nesta semana pelo presidente Nicolás Maduro.
Lula e Javier Milei têm desavenças desde que o argentino subiu ao poder em dezembro de 2023. Em uma oportunidade, Milei chamou o presidente brasileiro de “comunista” e “corrupto” em um programa de TV, que exigiu um pedido de desculpas.
O hasteamento da bandeira brasileira na residência oficial do embaixador da Argentina em Caracas segue a expulsão de diplomatas de diversos países, após contestações dos resultados das eleições venezuelanas.
A disputa eleitoral ocorreu no outro domingo (28) e o Comitê Nacional Eleitoral (CNE) deu a vitória ao presidente Nicolás Maduro. A oposição, liderada por María Corina Machado e Edmundo González Urritia, e a comunidade internacional contestam o resultado e alegam falta de transparência.
Além da Argentina, o regime de Maduro também expulsou o corpo de diplomático de seis outros países latinos que contestaram o resultado proclamado das eleições na Venezuela: Chile, Costa Rica, Peru, Panamá, República Dominicana e Uruguai. O Peru também deve contar com a ajuda do Brasil para representar seus interesses mais imediatos – a proteção de prédios e de cidadãos, por exemplo.
O pedido de Buenos Aires foi feito pela chanceler argentina, Diana Mondino, ao ministro brasileiro Mauro Vieira após o governo de Nicolás Maduro expulsar os diplomatas argentinos do País.
Estruturas e arquivos
Na prática, ao defender os interesses diplomáticos de outro País, o Brasil vai resguardar a inviolabilidade das instalações e dos arquivos argentinos na Venezuela. Em princípio, isso significa que funcionários da diplomacia brasileira poderão atuar nas instalações argentinas.
Mais detalhes sobre a cooperação ainda sendo acertados entre os dois países. A ajuda do Brasil também se dará no esforço para encontrar um destino para seis asilados venezuelanos que estão refugiados na Embaixada Argentina em Caracas.
Os asilados são opositores ao governo de Nicolás Maduro. E devem, com a ajuda do Brasil, ser transferidos para embaixadas de outros países, como as de membro da União Europeia.
Brasil x Argentina
Apesar de os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Javier Milei trocarem farpas e nunca terem tido um encontro bilateral, as diplomacias de Brasil e Argentina mantém suas relações normalmente.
Recentemente, o embaixador do Brasil na Argentina, Julio Bitelli, afirmou que, para o presidente Lula, a relação com o País vizinho é “mais importante” do que a que ele tem com Javier Milei. A líder da oposição a Nicolás Maduro na Venezuela, María Corina Machado, fez uma postagem em sua conta no X e agradeceu a atitude do governo brasileiro.
“Agradecemos ao governo do Brasil pela disposição em assumir a representação diplomática e consular da República Argentina na Venezuela, e a proteção de sua sede e residência, bem como a integridade física de nossos colegas asilados na referida residência. Isto poderia contribuir para o avanço de um processo de negociação construtivo e eficaz como o que o Brasil tem apoiado”, publicou María Corina.