O general da reserva Augusto Heleno, que foi chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) durante o governo Jair Bolsonaro (PL), afirmou que devolveu um relógio Rolex que recebeu como presente durante viagem de comitiva do ex-presidente ao Catar, em 2019.
A afirmação foi feita no depoimento de Heleno à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Atos Golpistas, nesta terça-feira (26), em resposta a questionamento da deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ).
“O relógio estava comigo, tinha outros que receberam relógio, o Comitê de Ética da Presidência da República foi consultado sobre o que fazer com o relógio (…), e o que veio como decisão do Comitê de Ética da Presidência foi que era um presente personalíssimo, e que nós podíamos ficar com o relógio”, disse o ex-ministro.
Em março de 2023, o Tribunal de Contas da União (TCU) notificou a Secretaria-Geral e a Comissão de Ética da Presidência da República sobre relógios de luxo recebidos pela comitiva que acompanhou o ex-presidente Bolsonaro ao Catar, em 2019. Entre os integrantes da comitiva, estava Heleno.
Na notificação, o ministro Antonio Anastasia escreveu que os itens recebidos pela comitiva estavam “em desacordo com o princípio da moralidade pública” e que “o recebimento de presentes de uso pessoal com elevado valor comercial extrapola os limites de razoabilidade” previstos na legislação.
Direito ao silêncio
O general Augusto Heleno foi convocado para depor à CPMI dos Atos Golpistas na condição de testemunha. Na segunda-feira (25), o ex-ministro pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) que não fosse obrigado a comparecer à comissão. O pedido foi recusado pelo relator, Cristiano Zanin. No entanto, o ministro permitiu que Heleno não respondesse a perguntas.
Em seu depoimento, Heleno respondeu a algumas das perguntas feitas pelos parlamentares, mas silenciou, por exemplo, quando foi questionado pelo deputado Rogério Correia (PT-MG) se teria participado de reunião do hacker Walter Delgatti Neto com o então presidente Jair Bolsonaro (PL).
Politização
No depoimento, o general Heleno disse que não politizou o GSI enquanto esteve na chefia do órgão, e também afirmou que o acampamento golpista no qual se abrigaram vândalos que cometeram os atos de 8 de janeiro, em Brasília, tinha “atividades ordeiras”.
Aos integrantes da CPMI, Heleno criticou declarações do atual ministro do GSI, general Marcos Antonio Amaro dos Santos, de que o Heleno teria levado “carga política” ao órgão.
“Sobre a declaração do atual ministro do GSI, que eu politizei, eu lamento que tenha partido do atual [ministro], que é meu amigo particular. Ele já tinha trabalhado no GSI antes, ele falou essa bobagem no dia que chegou no GSI, garanto que ele está arrependido do que falou”, disse.